quarta-feira, 29 de junho de 2011

mad architect



All the choices I once made, the paths that I designed
Have formed this endless labyrinth, a product of my mind.


Uma vez quando era miúda ia acertar o relógio de pulso e, mal tentei puxar a rodinha lateral para fora, descolei ligeiramente a unha do dedo indicador. Lembro-me daquela sensação – um misto de dor e estupidez – e de me ter perguntado, enquanto apertava o dedo com força com a outra mão, por que carga de água tinha puxado aquilo assim e que agora já não havia nada a fazer, porque a unha descolada estava. Senti o mesmo noutra ocasião, ainda mais miúda, quando vesti uma camisola de lã sem fechar os olhos.

Nessas alturas, na minha inocência, pensei no quão rapidamente a vida de uma pessoa pode mudar, por via de pequenos gestos impensados. 

Recentemente senti o mesmo. Aliás, senti que muito pouco nesta vida está nas nossas mãos. Nunca fui de acreditar muito no destino, mas a forma como os acontecimentos se encadearam nestes últimos 10 dias, a forma como fui irremediavelmente levada para uma situação, fez-me mudar de ideias.

O arquiteto louco está lá em cima, a brincar connosco. E ele arquitetou este esquema de forma perfeita. Há que elogiá-lo. Eu, com o meu feitio, não poderia ter reagido de forma absolutamente nenhuma a não ser da forma como reagi aos acontecimentos que se sucederam numa catadupa imparável e impressionante.

Corredores escuros, curvas repentinas, espelhos e portas giratórias… eu bem que corri. Mas não tive hipótese: o meu barquinho de papel foi levado, devagar mas firmemente, pelo caminho que tinha de seguir. É assustador como todas as peças encaixaram de forma a que eu acreditasse em algo que me fez tomar decisões irremediáveis. Quando não tomamos decisões, a Vida toma-as por nós. Sinto-me enganada por Ela. 

E agora pronto, fui desembocar ao meu oceano cinzento outra vez. Muita poesia há de vir para aí, muitos textos, muita lamechice, muito Eu. Mas ao menos sei que posso cruzar os braços, porque o meu barquinho há de seguir o rumo que o arquiteto quiser, como e quando quiser. E só me resta tentar sobreviver à viagem.

Adotei o novo Acordo Ortográfico. Ou tentei.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

one step closer to The One

Eu fiz por acreditar que não existiam príncipes encantados.

Agarrei-me com força às histórias de amores conturbados e que acabam sempre por resultar no fim. Agarrei-me à Carrie e ao Big. Às migalhas que recebia de vez em quando. Agarrei-me à desculpa do teu passado, que te queimou e só deixou cinzas, carvão e paredes escurecidas pelo fumo para partilhares comigo. E agarrei-me a esta modernidade, em que (dizem) já não há tempo para palavras doces nem surpresas maravilhosas.

Mas chega de acreditar em mentiras, chegou a hora de conseguir ver a Verdade. Essa verdade que tantas vezes transbordou para as páginas deste blogue, de formas tão assustadoras que eu a postava e depois apagava, para não ter de voltar a ler.

Já ninguém cala esta Verdade, ela grita-me aos ouvidos. Nas vozes de todos os meus amigos, conhecidos, dos meus pais, familiares e até nas vozes dos teus amigos. E a voz que se ouve mais baixa é a minha. Mas sim, ela também está lá.

Eu fiz por acreditar que não existem príncipes encantados. Foi mais fácil do que acreditar que eles existem, que o meu existe, mas que não és tu.

Texto escrito a 14 de Fevereiro de 2010. Hoje vale a pena publicar.