quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

sobre a reVolução

V for Vendetta Pictures, Images and Photos


Há muitos balanços a fazer sempre que acaba um ano, juntamente com alguns desejos (e promessas) para aquele que acaba de nascer. Mas uma conversa hoje aguçou-me o apetite para fazer um balanço (pequenino) do que se passa no nosso país.

A ideia de um Estado Social, que zele pelos cidadãos e lhes garanta condições mínimas de sobrevivência com alguma dignidade remonta à China do século XI. Ao longo do século XX a ideia foi sendo implementada em vários países, incluindo Portugal. Hoje, mais de cem anos depois (e graças àquilo a que chamam as "democracias" liberais, plutocracias na minha opinião) o Estado Providência não passa de um oásis no deserto amoral em que se tornou a política portuguesa.

Não pensem que vou aqui fazer um ataque ao governo de Sócrates, a minha reflexão não tem como objectivo ir contra este ou aquele, mas revelar um estado de coisas que não é mais do que um lento mas determinado caminhar em direcção ao caos. E temos de fazer alguma coisa.

Nenhum futuro

Aos 24 anos assisto uma lista infindável de medidas de gestão incompetente dos recursos do país (e do mundo, porque o que se passa cá dentro é uma espécie de miniatura daquilo a que assistimos no global). Medidas que serviram para alimentar fortunas pessoais e não para investir num futuro melhor para todos. Aumentos nos transportes, nos bens de primeira necessidade (pão, água), na gasolina, diminuição dos apoios à habitação para jovens... e fala-se até na falência de todo o sistema de segurança social e no fim das reformas.

O futuro parece negro para todos aqueles que não pertencem à (quase extinta) classe média portuguesa, que não têm pais ricos nem... ok, não vou fazer a piada. Qual é a causa? E qual a solução?

Dar o salto

Ouvimos muitas vezes falar em pessoas que vão trabalhar para fora, que passam a ganhar o triplo, ascendem mais facilmente na carreira (mesmo que sejam mulheres) e conseguem um nível de vida melhor. É tentador, deixar tudo e partir à aventura. Cada vez mais de nós estão a dar o salto. Resultado: a prata da casa está a abandonar o país, só cá ficam os menos corajosos, os que estão dispostos a correr menos riscos, aqueles que se contentam e conformam, os com menos qualificações.

Isso das qualificações hoje em dia até nem deve ser grande problema. Afinal, temos carradas de licenciados acabadinhos de sair da faculdade, à procura de um emprego que não chega. E o governo gabou-se de ter diminuído os casos de insucesso escolar e de desistências no último ano. Mas a custo de quê? Se é um facto que há mais licenciados (ou mais pessoas a acabar o 12º), isso não significa necessariamente que tenhamos uma geração mais bem formada. Não da forma como está o ensino em Portugal - o governo quer resultados, logo, os professores reduzem o grau de exigência. Também não é de admirar, quantos de nós não passariam um aluno (= animal) só para não termos de levar com ele no ano seguinte? A indisciplina e insegurança nas escolas é um problema que não interessa ao governo. Tinha de dizer isto, mas ainda há mais.

O sonho português

Estava a falar de causas e (já lá vamos) de soluções. O péssimo estado do sistema educativo português (em que os professores são caluniados, os alunos desculpados e os pais desresponsabilizados) contribui e tem contribuído para criar gerações e gerações de inúteis. O povo português não gosta de trabalhar. Sonha com o dia em que há de ganhar o Euromilhões, mas odeia levantar-se cedo e vergar a mola. Isto não é propriamente o reforço positivo que devemos dar a uma criança quando a queremos motivar para fazer algo melhor, mas tem de ser dito. Até os espanhois, que têm siestas de não sei quantas horas, produzem mais que nós! Vergonhoso.

Então, o que é preciso para voltarmos a acreditar? O que é que nos falta para termos "pica" para ir para o emprego e dar o litro, para investir à maluca num negócio qualquer e depois até ter sorte, para abanar o barco e, finalmente, mudar de vida??? Nós esquecemo-nos de que somos filhos (ou netos) da revolução, mas alguns de nós ainda têm esse fogo cá dentro e ainda acreditam que são capazes de agarrar a vida pelos tomates e fazer alguma coisa de jeito com ela!

A revolução

Então, chega de pensar que as grandes mudanças estão nas mãos dos políticos. Acreditam mesmo nisso? O poder corrompe seja quem for que lá vá parar. Ideais nobres passam a memórias vagas e culpadas assim que nos vemos no conforto do Palácio de Belém. Não precisamos de um novo ídolo (aposto que quem votou Cavaco esperava que ele fosse mudar alguma coisa... só rir!) nem de mais fantoches vendidos pelos media como salvadores da pátria. Isso é tudo carne para canhão. Só precisamos de nós mesmos.

Para 2008 é isso que eu proponho: a revolução. Acabar com as desculpas. Manifestações. Acção social ou individual. Ao vivo ou pela Internet. Porque é disso que precisamos para acabar com a crise (mundial, porque as injustiças, como disse, não se passam só aqui) antes que ela acabe connosco: acreditar no poder de intervenção pessoal de cada um, nem que seja no nosso grupo de amigos, porque isso já fará toda a diferença. E é para isso que cá estamos, para fazer a diferença.

Promessas para 2008

Podemos achar que o nosso microcosmos é demasiado reduzido para sermos capazes de mudar alguma coisa. Mas conhecem a teoria do efeito borboleta? O segredo está nas pequenas coisas. Então eu proponho:

  • Tratar com justiça e atenção os nossos familiares e amigos (e todas as outras pessoas, já agora!)
  • Promover um ambiente de trabalho livre de intrigas ou discriminação
  • Lutar pelo Planeta no dia-a-dia (reciclar, poupar água e electricidade, etc etc)
  • Manter a calma nas estradas
  • Colaborar com ONGs para produzir mudanças a nível mundial (Exemplos: Avaaz, Greenpeace)
  • Ir SEMPRE votar, mesmo que seja em branco
  • Ler mais, ver menos programas estupidificantes na TV
  • Estar bem informado sobre a actualidade nacional e do mundo
  • Não acatar abusos de poder nem parvoíces dos orgãos de comunicação social (esse lobby dos infernos ao qual também pertenço)
  • Manter um espírito crítico
  • Participar em manifestações com as quais concordemos e não ficar no sofá só porque "não vale a pena" ou está mau tempo
  • Convencer os nossos familiares e amigos (pelo menos um) a fazer o mesmo que aqui propomos
  • ... ?
Aceitam-se sugestões. E força nisso :)