quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

pessoas de qualidade

São cada vez mais difíceis de encontrar. Ou porque se esquecem dos amigos, ou porque só se lembram quando precisam. Ou porque traem os namorados, ou porque andam a ver se engatam quem já está comprometido. Ou porque acrescentam sempre um ponto quando contam um conto e depois contam-no em demasia. Ou porque se estão nas tintas para tudo o que seja política, economia e seja o que for que não lhes diga respeito naquele dia, todos os dias, até ao dia em que acaba por lhes dizer respeito, e mesmo assim não se mexem. Ou porque não fazem aquilo que aconselham, mas depois fazem aquilo que criticam. Ou porque ainda julgo tanto quando tinha prometido a mim mesma parar com isso.

Estou num daqueles dias em que poderia dizer que quanto melhor conheço as pessoas, mais gosto dos animais. Há dias assim. E também eu sou uma pessoa, damn.

Provavelmente este estado de espírito tem a ver com as alterações às leis laborais divulgadas ontem. Comecei a pensar... se a maior força de um país são as pessoas... sim, porque um país é feito de pessoas, e não de dinheiro, nem de interesses, nem de minorias privilegiadas: a alma de um país são os 99% e não os 1%.

Se um país é feito de pessoas, não percebo como é que se pode fazer isto às pessoas. É escrever num papel que elas valem muito pouco, que têm tão pouca qualidade, que podem ser dispostas em pratinhos bonitos para os grandes tubarões virem cá comer. E têm tão pouca qualidade aqueles que escrevem, como aqueles que acatam o que é escrito.

Por isso estamos perante um ciclo vicioso, em que pessoas de fraca qualidade passam atestados de fraca qualidade às pessoas, o que lhes dá novo alento para se manterem quietos e perpetuarem a fraca qualidade.

A coisa repete-se tanto nos círculos públicos como na esfera privada: vejo-o nos políticos e nas pessoas mais próximas de mim. Somos todos matéria de fraca qualidade - intelectual, emocional, moral - mas não faz mal... porque a vida é assim e estamos tão bem assim, todos tão quentinhos, juntinhos, enterrados em lama até ao pescoço.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

como sacudir o diabo das nossas costas

Nada dura. E as coisas que duram são as mais improváveis, aquelas em que ninguém acreditava. E as mais certinhas e controladinhas e perfeitinhas são as que acabam por se desmoronar perante os nossos olhos. Nada dura, não se pode confiar em ninguém e podemos contar com muito poucos. Poucos serão aqueles que não nos julgam por se julgarem melhores.

Feitas as contas ao final do dia, os maus da fita são afinal os cavaleiros-andantes como é que se faz o plural disto? e os românticos ou os irrepreensíveis são aqueles que vão "às meninas" ao sábado à noite.

Num mundo como este, em que as relações são mentiras e até os nossos pais já levaram com o seu ocasional par de cornos, é difícil. Num mundo como este, em que não se pode ver o telejornal para não deprimir, é difícil.

É difícil confiar e acreditar, não só nas pessoas, mas na Vida. É difícil lembrarmo-nos de manter o pensamento positivo. É difícil construir um Eu novo e luminoso quando o nosso Eu ainda tem o diabo às costas. 

Mas não vou desistir... nem pensar.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

o fim da inocência

No outro dia em conversa vim a saber de um livro de um autor português "estilo Margarida Rebelo Pinto" medo, que nunca li, mas que conta a história verídica diz ele de uma jovem que iniciou aos 14 anos (ou seria 12?) a sua vida sexual e a partir daí foi a loucura.

Nessa conversa aprendi o que são Rainbow Parties, nas quais esta jovem (da alta sociedade, com pais ausentes e muito dinheiro disponível) e outras da sua idade participavam. Aprendi que algumas raparigas dessa idade já ameaçavam rapazes da mesma idade com violência, caso eles não cedessem a embarcar em determinadas aventuras sexuais. Aprendi que estas criançolas, que ainda nem barba têm, já se moviam no mundo do álcool, das drogas duras, da promiscuidade e da prostituição.

Foi um bocadinho assustador. Foi como ver o Kids aqui ao lado em Cascais.

Por isso quando li esta notícia sobre as medidas que estão prestes a ser tomadas no Reino Unido, achei bem. Não costumo ser a favor da censura, sob nenhuma forma ou disfarce, mas realmente eu própria sinto que vivemos numa sociedade altamente sexualizada e que há que pôr um bocadinho um travão nisto tudo.

De repente senti-me velha, por pensar "onde é que isto vai parar", mas não, não é isso. A verdade, como diz a notícia, é que as crianças têm direito à sua inocência. Têm o direito a ignorar um mundo que ainda não lhes diz respeito, não contribui para a sua evolução e, pelo contrário, até os pode prejudicar, porque lhes retira tempo e atenção que podem dedicar a atividades mais edificantes.

As crianças não têm de ser bombardeadas com imagens da Rihanna a comer bananas, nem da Kelis a dizer que "o batido dela chama todos os rapazes do bairro". Abominamos a pedofilia, mas admiramos estas mulheres que são, no fundo, role-models para as nossas filhas de 6 aninhos. E achamos graça quando elas, aos 7, já querem usar baton. Estamos a misturar o que não devia estar no mesmo prato, nem no mesmo horário televisivo.

Por isso censurem, sim, empurrem estes conteúdos para depois da meia-noite e, ainda mais importante do que isso, não deixem os meninos ver TV desacompanhados... não vá a coisa tornar-se ainda mais agressiva e eu daqui a uns 10 anos dar de caras com uma surpresa desagradável no quarto dos putos.