quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

henrique, o raposão

A minha opinião sobre o que escreve Henrique Raposo no Expresso é, regra geral, muito negativa. Mas o que hoje escreveu revoltou-me especialmente, de tal forma que até me atreveria a dizer que me apetece partir-lhe a cara, mas isso seria imediatamente considerado um tique de esquerda ou coisa parecida, portanto fiquemo-nos pelo "revoltou-me especialmente".

Os portugueses estão finalmente a reagir a olhos vistos às medidas injustas que lhes têm sido impostas (com resultados zero). Reagem agora com formas de expressão mais direcionadas e "cirúrgicas" do que as manifestações gigantescas que o Governo insistiu em ignorar. O Movimento dos Indignados de Lisboa tem convocado ações específicas de protesto face a determinadas figuras do Estado, como seja a que assistimos durante a visita de Miguel Relvas ao ISCTE.

Ora coube ao senhor Henrique Raposo (e a outros tantos iluminados) classificar esta ação de protesto como uma violação da liberdade de expressão do senhor Relvas e, pior, como uma ação "fascista". 

Num tom desprezível, jocoso e paternalista, Henrique Raposo fala dos «novos cantadeiros do "Grandola Vila Morena"» como «aprendizes de fascistas», criticando a «total intolerância em relação ao outro lado», quando nenhuma tolerância foi tida para com este lado; tomando por ódio, «um ódio que escorre pelos cartazes, pelos rostos, pelas vozes», aquilo que na verdade é desilusão, desesperança ou desespero e desemprego. Mistura conceitos históricos «é a marca do fascista, seja ele castanho ou vermelho» (agora é moda, esta do "fascismo vermelho") para confundir os leitores ou talvez ele próprio acredite no conceito, coitado; e exagera factos: «temos a consequência lógica das duas premissas anteriores: o culto da violência».

Henrique Raposo rotula de «extrema-esquerda» pessoas que (muitas delas sem sequer ter filiação política)  se fizeram ouvir num protesto pacífico (ainda que inflamado) contra aquele que eu considero atualmente ser o maior símbolo de um Governo opressor, mentiroso e corrupto. Acusa-os de serem «fascistazinhos de vão de escada» e convida-os a continuar «a mostrar que não sabem viver em democracia, que não sabem aceitar opiniões contrárias» e «a ameaçar».

Olhe senhor Henrique Raposo, bem sei que nunca lerá este texto, mas permita-me cuspir no seu. Mete nojo  o desprezo que demonstra pela situação Portuguesa, ao ponto de ter escrito, do alto do seu pedestal, contra pessoas que têm a coragem para dizer "Não" a um Governo que (embora eleito democraticamente) é uma farsa, uma mentira aos eleitores. A razão que leva o Expresso a mantê-lo no poleiro, com crónica miserável atrás de crónica miserável, muitas vezes fundamentada mal e porcamente, é para mim um mistério.

Só posso concluir o seguinte: o seu convite não cairá em saco roto. Mas permita-me uma reformulação: continuaremos, sim, a lutar pela Democracia. Continuaremos sim, a mostrar que não aceitamos (e muito menos prestamos vassalagem) a figuras viscosas como Miguel Relvas. Continuaremos a lutar para que também os seus filhos (e aí é que está a ironia da coisa) possam viver num País com futuro, sem serem convidados a emigrar. 

Quanto aos estudantes do ISCTE e todos os que se têm mobilizado, em manifestações maiores ou menores, só tenho a dizer uma coisa: obrigado.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

a ditadura da fatura

Agora quando forem ao supermercado ou à praça e se prepararem para pagar as compras, não se esqueçam de olhar discretamente à vossa volta, por entre os repolhos e folhas de alface ou outras leguminosas que sirvam o propósito da camuflagem. Olhem bem, primeiro para um lado e depois para o outro. Se o caminho estiver livre, toca a pagar como habitualmente. Se houver alguém a uma distância comprometedora, peçam fatura.

Não confiem nas velhotas que empurram as suas malas retangulares com rodinhas. Não confiem no homem que lê o jornal enquanto bebe a bica. Não confiem na peixeira que lava o chão, nem confiem no homem do talho de palito na boca.

O governo disse e está dito: desde o início deste ano, quem não exigir fatura nos estabelecimentos comerciais, está sujeito a uma multa entre os 75 e os 2000 euros. Portanto já sabem: cuidadinho.

Com esta animalidade, o governo faz de todos nós delatores, instaura uma nova espécie de PIDE, um controlo certamente inspirado  no Panóptico de Foucault: não é precisa a certeza de que estamos a ser vigiados,  não é preciso o polícia, o olhar inquisidor do chefe de finanças, nem do padre. Basta a suspeita, o medo, a vaga sensação de que podemos estar a ser observados, e toda a sociedade se auto-regulará em harmonia. Que belo feito, este.

Da minha parte vos digo: pelo sim pelo não, ao mínimo trejeito de dúvida por parte do comerciante quando eu mencionar o fatídico documento comprovativo, salto-lhe logo ao pescoço, que apertarei violentamente (enquanto espumo da boca e os olhos me saem das órbitas) até me faltarem as forças. Isto para que não restem dúvidas - à velhota, ao homem do jornal, à peixeira nem ao homem do talho - de que eu, de facto, exigi fatura.