sexta-feira, 6 de novembro de 2009

nada




No outro dia vi uma reportagem sobre as crianças em África. Com aquelas imagens que já foram marteladas no nosso cérebro tantas vezes (desde que éramos miúdos, quando nos recusávamos a comer a sopa e a nossa mãe dizia "há meninos a morrer à fome!"), que parece que criámos uma capa protectora e já não nos deixamos atingir por elas.

Mas ainda nos atingem, que eu sei.

Mostraram-nos as condições em que aqueles miúdos viviam, sob o risco de contrair o HIV e não durar até aos 30, e contaram a história de uma menina de 5 anos que percorria não sei que distância sozinha para ir comprar pão para a família almoçar e jantar.

Com 5 anos, um miúdo daqui não pode sair de casa sozinho, muito menos com dinheiro, seja para percorrer que distância for. Pode ser atropelado, levado por um pedófilo... ou levar um pontapé de um puto mais velho, quem sabe.

Mas atingiu-me particularmente a última cena do documentário. Entrevistavam um dos miúdos que trabalhava no campo e ele, com ar responsável, dizia que não queria namoradas, porque depois elas engravidavam e ele não tinha dinheiro e era uma chatice... E a última pergunta que lhe fizeram foi: se ele pudesse ter alguma coisa de que gostasse, uma coisa que lhe faltasse, o que seria?



E ele respondeu: "Nada".