segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

psychos


Estudos comprovam que mais de metade da população feminina mundial sofre de problemas mentais, mais ou menos graves. 

The definition of mental health problems used in the new study includes low self-esteem, poor self-confidence, and stress.

Auto-estima baixa, pouca confiança em si mesma e stress... ok, acho que também tenho problemas mentais. Se mais de metade das mulheres inquiridas apresentaram distúrbios mentais, não estará na altura de redefinir o que é normal, numa mulher, em termos mentais ou emocionais? 

Parece-me que stress e pouca auto-estima são coisas pelas quais todas nós passamos, em algum momento das nossas vidas. E nessas alturas, conforme diz o estudo, a algumas dá-lhes para a promiscuidade, a outras dá-lhes para se cortarem, a outras dá-lhes para desaparecerem, passarem uma noite fora de casa, etc.

No fundo são formas diferentes de tentar dizer "eu estou aqui e preciso de qualquer coisa", mas será isso um sintoma de uma doença mental que precisa de tratamento? Precisamos de tratamento ou precisamos de amor? Ou, quem sabe, precisamos de um par de estalos?

Depression is expected to become the world's second biggest health problem after heart disease by 2020, according to the World Health Organisation.

Não quero de forma alguma menosprezar os problemas que cada uma tem, alguns deles bem reais e bem graves. Mas numa era em que ter daddy issues é fixe e em que facilmente se confunde um simples desgosto de amor com uma depressão clínica, eu pergunto: estará a nossa sociedade que exige às mulheres que trabalhem, cuidem da casa, eduquem os filhos, façam exercício, e ainda que sejam bonitas enquanto o fazem a produzir exércitos de super-mulheres com distúrbios psíquicos? 

Ou será que os psicólogos, psiquiatras, terapeutas... estão apenas a tentar vender o seu peixe?

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

I wanna be a billionaire so freakin bad...


O assassinato de Carlos Castro deu o mote para escrever um texto que tenho entalado há alguns meses. Sobre o "deslumbramento económico" (que eu antes não sabia que se chamava assim, mas é realmente uma boa definição), os seus males e, agora, os seus perigos.

Eu ia falar sobre todas as coisas que temos e que acabam por nos ter a nós, sobre a nossa incapacidade para apreciar as pequenas coisas, sobre o nosso desejo constante de ter mais e mais e sobre a infelicidade em que acabamos por viver, por tudo isto. Gostava de saber em que dia se deu essa viragem: o dia em que parámos de apreciar aquilo que temos e passámos a viver na insatisfação permanente.

Passámos a primeira madrugada do ano a discutir essa tal coisa de deslumbramento económico: o estado em que os portugueses, frutos verdes da revolução de Abril, se encontram neste momento. Uma fase. Que deve estar para terminar em breve. Uma fase de bolsos cheios mas cada vez mais de dívidas, de carros novos, unhas de gel, Coca Cola, Prada e e-bay. E televisão por cabo.

E é sobre a televisão por cabo (os media, vá) que eu gostava de falar um bocadinho. Renato Seabra é um exemplo acabado (como tantos outros) de como se vai from zero to hero e depois de bestial a besta outra vez, na televisão. E por causa da televisão. Não sabendo ainda a verdade dos factos, há teorias que dizem que Renato se aproximou de Carlos Castro para subir na vida, para se tornar um modelo famoso.

Já falei disto várias vezes e já se falou disto várias vezes. Somos bombardeados por imagens de beleza e juventude diariamente. As velhas já não são velhas as mulheres aos 60 anos já não são como as de antigamente, existe o culto da juventude eterna, não só em termos físicos mas também mentais, ou melhor, de estilo de vida.

Os eternos Peter Pans, se aos 30 anos parecem ter e vivem como aos 18, aos 60 anos parecerão ter 35. É isso que se pretende. Live fast, die young, make a lovely corpse é algo do passado. Queremos viver muitos anos, viver muito durante esses muitos anos e morrer muito bonitos na mesma. Hoje em dia, chamam-se homens “bons” aos homens bonitos. E mulheres “boas”. Isto deve querer dizer alguma coisa, não?

Talvez por isso tenham surgido hordas de comentários no site do PÚBLICO de pessoas que se insurgiram contra Carlos Castro e a favor de Renato Seabra. Contra o velho flácido patético, a favor do jovem vigoroso, modelo, de sorriso impecável. O jovem vigoroso usou um saca rolhas para mutilar o velho flácido, depois de o espancar com um monitor? Fez ele muito bem, que nojeira, aquele velho flácido! Triste.

Está recheado de ironias, este homicídio.

Queremos a eternidade, queremos ser a honra, o herói, a lenda. Não importa muito como. O Renato conseguiu, em parte. Mas será que ainda há lendas na era dos 15 minutos de fama? Até onde iremos… to be one of the beautiful?



E como é que volta atrás? Como é que se desliga isto I know that I can turn you on  I wish I could just turn you off, I never wanted this. ?

A resposta não é desligar a televisão, ou eliminar o contacto com esse mundo de estrelas. Isso seria voltar à caverna. Eu invejava as crianças em África que conseguiam viver felizes com a sua bola de futebol furada. Mas a verdade é que também elas, como qualquer ser humano, seriam infelizes se soubessem que podiam viver muito melhor do que vivem mas não o conseguissem alcançar.

A resposta não é voltar à caverna. É saber lidar com o facto de uns estarem "no topo" e nós um bocadinho cá mais abaixo, entre os demais. A resposta está em tomar consciência de que, independentemente do dinheiro que se possa ter, a nossa vida, individual, familiar, as nossas pequenas particularidades, as nossas ideias, não têm preço. Não são desprezíveis, não são mais do mesmo, não são uma gota no oceano.  Têm um valor inestimável.

Na verdade somos ricos, só temos de o saber ver para sermos felizes.