quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

the downward spiral

 Não tem sido por falta de ideias que não tenho escrito, mas por preguiça. Normalmente é o calor que nos deixa "moles", mas o Inverno parece ter em mim o mesmo efeito que aquele buraco de lama tinha em Robinson Crusoe. Também, escrever ou não... não me parece que vá propriamente desiludir uma legião de fãs.

Aproxima-se mais um fim de ano. Nestas alturas tenho sempre mais tendência para fazer uma retrospectiva, do que planos para o novo ano.

Mas não me apetece fazer uma retrospectiva aqui. Fá-la-ei na minha cabeça e convido-vos a fazer o mesmo. Ou, quem sabe, a fazer planos para 2011.
Se não tiverem preguiça.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

sobre os eternos Peter Pans

Ilustração de Peter Pan, em Peter and Wendy, 1911

É engraçado verificar que, de todos os meus amigos, contam-se pelos dedos de uma mão aqueles que já saíram de casa dos pais e que têm uma vida minimamente estável em termos financeiros e emocionais.

A quantidade de Peter Pans  que por aí anda é impressionante. Apreciam a sua liberdade, gabam-se do conforto da casa dos pais, aproveitando bem o prolongamento da adolescência até aos 30, que hoje em dia se tornou tão aceitável. Recusam-se a sair, mesmo que seja para ir viver em conjunto com dois ou três amigos, simplesmente porque é mais fácil ficar por casa.

Estes são os mesmos Peter Pans que, por viverem até demasiado tarde com os pais e por adiarem a idade adulta indefinidamente, vão fechando os olhos aos problemas reais que assolam o País, até porque não os sentem na pele. No máximo, sentem um nervoso miudinho, porque noites sem dormir a pensar em como vão ter que comer no dia seguinte… não me parece.

Pergunto-me muitas vezes o que falta à minha geração para ter a coragem que a dos meus pais teve. Porque continuamos com os mesmos governantes porque independente de quais sejam, são os mesmos, com os mesmos problemas e com o mesmo sistema? Ouvem-se algumas vozes tristes que choram pelo regresso do fascismo memórias curtas, outras que dizem que isto está muito mau, outros dizem que os políticos do governo deviam ser de lá retirados à bomba… mas é só. Não há alternativas reais.

Não há iniciativa, não há a capacidade para dar o primeiro e derradeiro passo, andamos todos cheios de vontade de rebentar com coisas, mas ninguém o faz. Porquê?

Porque se contam pelos dedos de uma mão os meus amigos que já saíram de casa dos pais e que têm uma vida minimamente estável.

Porque estamos rodeados de Peter Pans que ainda acreditam estar na Terra do Nunca. Uma geração de bebés engravatados que julgam que fazer 18 anos é apenas sinónimo de ter carta e carro à borla.

E eu podem perguntar porque é que eu, se tenho tanta vontade, não faço alguma coisa? Porque, embora já tenha saído de casa e tenha os olhos abertos para alguns assuntos, sinto que, se desse um passo em frente, não tinha ninguém que me acompanhasse. Ora, aquilo que faz um líder não é a pessoa que toma a iniciativa, mas sim as duas pessoas que primeiro resolvem acompanhá-la.

Por isso, quem é que se chega à frente? Eu acompanho-o.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

muro das lamentações



Neste fim-de-semana apercebi-me de que não escrevia no meu diário há mais de dois anos. Tenho uns 5 ou 6 volumes de diário, caderninhos bonitos a rebentar pelas costuras, uns a desfazer-se mais que outros, uns mais pessimistas, outros mais sonhadores, mas todos muito repetitivos. 

Quando for velhinha e não tiver vergonha, mando publicar. 

Uma pessoa deve sempre manter um diário, ou vários, como eu. Lê-los ajuda-nos a não repetir erros do passado, ou simplesmente faz-nos dar umas boas gargalhadas.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Vanity, definitely my favorite sin.


Venus with a Mirror, 1555
Titian
Italian, c. 1490 - 1576


Ontem tive a sensação de que estava prestes a ter uma overdose de imagem, se é que isso é possível. Foi o culminar de semanas de televisão, maquilhagem, blogs de moda, Kardashians, saídas à noite e seus preparativos, horóscopos, shiny happy people laughing, Facebook, sabrinas, tatuagens, bling, eu sei lá.

Onde andam as coisas realmente importantes? Ando andamos completamente desligada da realidade. Tenho de acordar.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

lições, confissões e repetições

Este ano, mesmo antes de ir de férias, aprendi uma lição importante. Se calhar é básica para a maioria das pessoas, mas eu nunca me tinha apercebido dela de forma tão clara e, pior, sempre lutei contra ela.

Todos nós julgamos a forma como os outros vivem as suas vidas. Uns mais que outros, é certo, mas eu confesso que julgava, e muito. Era incompreensível para mim como a minha amiga x podia viver de forma tão absolutamente vazia e como a minha outra amiga y podia ter uma relação tão incrivelmente ridícula, ou como o meu amigo z podia exercer-se como um débil mental sem nunca ser confrontado pelos amigos que no entanto não se coíbem de o confrontar... quando ele não está presente. Irritava-me, revoltava-me mesmo.

E por isso falava com eles e tentava, umas vezes de forma subtil, outras à bruta, mostrar-lhes a minha visão das coisas e obrigá-los a mudar. E quando via que tais conversas não adiantavam nada, eu pensava: "estás lixado" ou "nunca hás de sair dessa situação" ou até, imagine-se, "enquanto não fizeres o que eu te digo, serás sempre pior que eu".

Até que um belo dia me apercebi de que há pessoas que fazem isso comigo. Fazem-no há muito tempo, mas só me apercebi no outro dia, mesmo antes de ir de férias.

Olham para mim e não gostam que eu não corresponda às expectativas que criaram em relação a mim. Acham que eu merecia melhor ou basicamente que me devia esforçar mais, a todos os níveis (pessoal, profissional, social, intelectual).

E por isso falam e tentam, umas vezes de forma subtil, outras à bruta, mostrar-me a sua visão das coisas e obrigar-me a mudar. E quando vêem que tais conversas não adiantam nada, dizem entre eles "eu espero estar enganado, mas ela assim não sai da cepa torta".

O problema é que, na verdade, ninguém espera estar enganado. Pelo contrário, nós queremos ter razão. Sempre, de preferência. Portanto, eles esperam ter razão e, se eu não seguir os seus conselhos, esperam que me esmerde completamente na minha relação, no meu trabalho, no meu grupo de amigos... enfim, a todos os níveis.

É muita energia negativa a ser enviada para o Universo, por este grupo de pessoas que me adora e quer o melhor para mim, mas que ao mesmo tempo (e mais ainda) quer ter razão. E eu acredito nisso de que o que enviamos para o Universo volta para nós três vezes. Preocupante.

E de maneiras que foi assim que percebi que não vou julgar mais. Aliás, posso dizer até que foi quase automático: a partir do momento em que assimilei esta lição, deixei de julgar as minhas amigas/os. Porque eles têm a vida deles e eu tenho a minha e por mais que batam com a cabeça nas paredes para que eu faça as coisas à maneira deles, eu não vou fazer. Logo, por mais que eu bata com a minha cabeça nas paredes, eles também não vão fazer as coisas à minha maneira.

E pronto, fiquem descansados que energias negativas da minha parte não vão ter.

Sempre me torturei por agradar a todos até a um morto e isso tem de acabar. A lição é tão simples e já foi repetida em n (ainda não tinha usado esta variável) filmes, livros e canções, mas eu agora preciso de a escrever, para que ela se entranhe em mim: cada um sabe de si, a vida é minha, eu é que sei, my body my choice, etc... escolham o vosso chavão.

Assim, eu: não vou dormir mais horas, não vou comer mais vezes em casa nem a horas decentes, não vou sair menos à noite e mais de dia, não vou acabar, não vou tirar mais cursos, não vou convidar ninguém para ir jantar lá a casa, não vou mudar de carreira, não vou aprender uma língua nova, não vou ler mais, não vou mais vezes ao teatro, não vou a exposições, não vou fazer mais amigos, não vou ficar em casa sozinha mais vezes para ter tempo para mim. Não vou.

Ou se calhar até vou. Vou! Tudo isto e muito mais! Se me apetecer.

terça-feira, 20 de julho de 2010

a visita

O dragão negro cruzou os céus da noite e rugiu. E foi então que a Terra começou a revolver-se.

As águas levantaram-se, as nuvens rodopiaram sobre si mesmas, a terra e as areias tremeram, as árvores esticaram subitamente os seus ramos aos céus e tornaram-se frondosas.

Um monte no Alto Alentejo, não longe da fronteira espanhola, explodiu numa chuva incandescente e cuspiu dois dragões enormes. Um tinha as escamas douradas e quando voava sob a lua, em quarto-crescente, os seus raios frios davam-lhe o aspecto de uma máquina enferrujada. Mas movia-se com a leveza de uma borboleta. O outro era vermelho rubi, de olhos amarelos, e sob a luz lunar assemelhava-se a um manto de sangue, aterrorizando aqueles que tiveram a sorte de o ver passar.

A Norte, de entre as pedras altas cobertas de musgo e as árvores de raízes profundas, ouviu-se um ruído surdo, que vinha dos confins da Terra. O solo abriu-se e engoliu dezenas de árvores, numa cratera que iria ali ficar marcada para sempre. E das trevas nasceram dois dragões. Um era castanho, as suas escamas aveludadas e escuras como cabedal. O outro era verde e tinha estado milénios camuflado entre o musgo e as folhas. Agora voavam os dois, lado a lado. Rumavam a Sul, de onde ouviram o chamamento.

A lua olhava e ouvia.

As minas abandonadas a Este tremeram e desabaram. E quando a poeira assentou, voltaram a tremer, de mansinho, até se abrirem em grandes focos de luz, de onde saíram dois dragões. Um era prateado, de escamas rijas e língua sibilante, os seus olhos eram como espelhos. O outro era invisível: as suas asas roçavam os ramos das árvores, o seu olhar pousava sobre os coelhos da floresta e eles, mesmo sem o ver, corriam para as suas tocas, em fuga daquela baforada quente. Os dragões voaram lado a lado, mas quem os olhasse via apenas um, como uma bala brilhante sob a lua.

Os oceanos revoltaram-se em sete mil ondas e à sétima onda abriu-se um abismo que sufocou sete mil peixes. E dali saíram outros dois dragões. Um era verde-mar, o outro azul-marinho, ambos cobertos de corais, conchas e crustáceos. Romperam os céus lado a lado, como duas sereias voadoras, com os seus dentes aguçados e caudas compridas a escorrer água.

O dragão negro rugia e eles ouviam-no.

A baixa lisboeta estava deserta, como em qualquer madrugada de segunda-feira, quando as pedras da calçada começaram a agitar-se. Uma a uma saíram das suas covas e deram lugar a um grande ovo branco, que brotou mesmo em frente ao arco da Rua Augusta. O ovo assim ficou, quieto, à espera. Até que todos os dragões se reuniram à sua volta.

Formado um círculo de dragões, o dragão negro voltou a rugir e rachou o ovo. Foi então que nasceu o décimo dragão, enorme, totalmente branco, as escamas reluzentes e húmidas, com a sua bocarra e narinas fumegantes. O dragão branco tinha asas de cisne, cheias de penas que ele espreguiçou vaidosamente ao sair da casca. Voou uns metros acima do chão e deu um grito agudo, ao qual se juntaram as vozes trovejantes dos outros nove dragões.

Todos abriram então as suas asas e foram ganhando altitude sobre as ruas de Lisboa. O dragão negro com as suas asas de morcego e o dragão branco com as suas asas de cisne cortavam a noite e abriam caminho, avançando lentos, pesados, mas no ar, sobre as luzes da Avenida da Liberdade.

Os dez subiram em direcção ao Saldanha e aí foram encontrar sítios onde pousar. Assentaram as suas pesadas patas sobre árvores e telhados, derrubando ramos e espatifando parapeitos. Depois de pousados, fixaram os olhos amarelos, vermelhos, brancos, espelhados, nos vidros do edifício... e esperaram.

A cidade amanheceu calma, como se de um final de tarde solarengo se tratasse. As pessoas caminhavam fascinadas por entre edifícios e ruas cobertas de pó de dragão: dourados, prateados, vermelhos, azuis-marinhos, brancos, verdes, numa mistura reluzente de cores que lhes fazia lembrar contos de fadas. Os dragões continuavam pousados mas ninguém parecia dar por eles.

Foi então que abriram as janelas da enfermaria. E todos os dez pares de olhos se voltaram para lá. Uma figura surgiu à janela e lentamente afastou as cortinas, curiosa. Viu os dragões. Olhou-os nos olhos, um a um. Apreciou as suas belas escamas, as suas asas recolhidas que brilhavam ao sol, os seus focinhos ameaçadores que fumegavam levemente. O dragão negro de chifres pontiagudos bufou e encolheu-se logo, para não a assustar.

Mas ela não tinha medo, porque sabia que eles eram velhos amigos e estavam ali de propósito para vê-la. Para garantir que tudo ia correr bem.

Sentiu-se segura e sorriu.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

amélie


(photo by me)


Hoje ouvi esta música, lembrei-me de tempos passados e tive muitas saudades de Paris. Quem dera a mim um fabuleux destin.

terça-feira, 6 de julho de 2010

ocultar é viver?

Old pic by me.




Este post contém spoilers sobre O Sexo e a Cidade 2.






A propósito do fatídico encontro entre a Carrie e o Aidan, a propósito de todas as histórias que se ouvem e em alguns casos se vivem e ainda a propósito de alguns arrufos recentes, importa colocar a seguinte questão:

Numa relação saudável, que quantidade de informação (se é que alguma) deve ser ocultada da nossa cara-metade?

A Carrie optou pela honestidade, contra os conselhos das amigas e de forma um bocadinho impulsiva. O que ganhou com isso? Um anel caríssimo quando chegou a casa.

Na vida real isto não acontece. Depois de uma traição, é maior a probabilidade de se levar uma lambada do que a de receber um anel... Mas também é maior a probabilidade de se ocultar a traição, do que a de a revelar imediatamente, ou não?

Mas mais do que falar de traições um dia talvez escreva sobre elas, o que me intriga mesmo são aquelas pequenas coisas que se ocultam no dia-a-dia. Um jantar com uma velha amiga, um almoço com um colega, um copo com outro/a. Eventos inofensivos, mas que, quando revelados, podem criar problemas na relação.

Nessas alturas, o que fazer? Será mais aconselhável falar abertamente sobre tudo o que fazemos, mesmo que isso possa gerar injustificados ataques de ciúmes? Ou antes ir ocultando este e aquele acontecimento que, por nos parecer insignificante, acreditamos ser melhor que nunca veja a luz do dia?

quarta-feira, 26 de maio de 2010

estamos todos a morrer


Campas visitadas e tragicomédias na Comuna serviram para me lembrar mais uma vez de que daqui a uns anos na melhor das hipóteses porque destas coisas ninguém sabe estamos todos a fazer tijolo. Principalmente quando a campa nunca tinha sido visitada antes, em quase 20 anos, e quando lá chegamos temos a sensação de que já fomos tarde, ele já partiu e, mais uma vez, não houve adeus nem pedido de desculpas.

O que acontecerá nesse momento em que fechamos os olhos? Será uma eternidade de vazio, um sono sem sonhos, não confortável mas dormente, a ausência de tudo, o nada, o nunca... para sempre? Ele contou à minha mãe que viu um túnel e uma luz lá ao fundo, quando teve um dos acidentes. Será que é mesmo assim? Espero que sim.

E espero que continuemos eternamente, sob uma forma qualquer, que haja qualquer coisa, que tudo isto não seja um enorme desperdício. Porque é isso que me faz confusão: tantas emoções, tantas experiências, tantas memórias, tantos sabores, construções, histórias, avanços e retrocessos, tantas lições... e para quê? Para depois acabar tudo num nada infinito, desperdício eterno?

Custa-me a acreditar que assim seja. A natureza é demasiado perfeita para tamanho absurdo. Tudo se recicla, até nós how they survived so misguided is a mistery aprendemos a reciclar, como o chimpanzé do anúncio. As almas também têm de se reciclar, só pode.

Mas agora com a clonagem e coisas que tais tudo fica mais difícil... será que um ser fabricado geneticamente tem alma? Isso veio complicar tudo na minha cabeça, ainda mais.

E outra coisa que me faz muita confusão é ver e viver que há pessoas como eu que perdem tempo a pensar nisto, neste dilema que nunca há de ter resposta. Nunca. Mas pensam e repensam na morte, todas as semanas. Na sua morte, na morte da mãe, na morte do pai, na morte do cão, na sua morte outra vez. E pensam no medo e têm medo mas felizmente já não têm medo de ter medo.

E sentem-se idiotas por estar a perder tempo da sua vida... a pensar na morte.

sábado, 17 de abril de 2010

sobre a força das mulheres


(photo by me)


Há tempos vi um post no mural de uma amiga minha, a queixar-se do aspecto de "prusti freak" e de "prusti fat-ass desconjuntada" de duas cantoras que se uniram recentemente numa música sobre a chatice que é ter de atender o telemóvel quando se está a dançar na discoteca.

Letra da música à parte, isso pôs-me a pensar (isto é um bocadinho "à Carrie Bradshaw", mas eu gosto): essas duas cantoras representam, para muitas adolescentes (e não só), o protótipo da mulher moderna. Não são o que "devíamos" ser mas são, no fundo, o que gostaríamos de ser: fortes, independentes, com um espírito livre (cause I'm a free bitch baby!)... mas também... com ar de prostitutas?

Estará a força das mulheres de hoje ligada apenas à sua capacidade de sedução? Que é feito da inteligência, ambição, espírito visionário...? Porque é que as mulheres que mostram esses atributos tendem a ser vistas como um pouco masculinas? E quais serão os sentimentos das mulheres em relação a esse estereótipo de "mulher livre = mulher libertina"? Não gostaríamos nós de nos rever em imagens menos "prusti"?

Vivemos numa era em que, mais que nunca, o sexo vende. E se vende, os homens compram. Mas não estaremos nós a vender barato?

Este tipo de poder feminino é, na verdade, uma ilusão de poder. Porque implica sempre um certo "esforço" para o concretizarmos. A não ser nos casos em que a mulher é naturalmente deslumbrante, esse esforço concretiza-se em dietas, tratamentos anti-celulite, horas no solário e outras tantas em frente ao espelho, com a base a entupir-nos os poros, o enrolador de pestanas a entalar-nos as pálpebras, o rimel a furar-nos um olho e o alisador de cabelo a queimar-nos a testa!

Este tipo de poder é, na verdade, outra forma de escravatura. Mas poderemos nós fugir-lhe?

segunda-feira, 29 de março de 2010

renego mais que tudo


(photo by me)


Refiro-me à cambada de acéfalos vestidos de preto que veneram uma estética vazia e desligada da vida real, enraizada na figura do grande Opositor, mas incapazes de fazer oposição seja a o que for.

De olhos fechados mas ouvidos bem abertos, gostam de chocar tudo menos novas ideias. Parados no tempo, acusam de "vendidos" ou "banais" a quem prefere deixá-los para trás. Maniqueístas devotos, dependem daquilo que contestam para dar algum sentido à sua "causa".

Acontece que o que eles contestam está morto desde 1888 e o que Dele resta agora é uma organização hipócrita, de pedófilos, ricos e mentirosos, que se arrependem dos seus pecados com alguns séculos de atraso. Mas não faz mal porque o arrependimento é a chave para os portões do Paraíso, ainda que só aconteça minutos antes de darmos o nosso derradeiro suspiro.

E o que resta podia ser contestado, há formas de o fazer. O seu representante máximo vem a Portugal em Maio, mas quando proponho um protesto num fórum mesmo mesmo trve, mandam-me "comer merda às colheres" e brincam com o assunto, dizendo que até "gostam de papa"...

E então eu pergunto-me: será que as vítimas também gostaram da "papa"?

Por isso, renego-vos. A todos que empregam os símbolos em vão e que acham que parecer do contra é suficiente. Não preciso de vocês, não preciso dos vossos ajuntamentos, não preciso da vossa estética gasta e aborrecida, nem preciso das vossas mentes medievais. Sim, medievais com sentido pejorativo. Irritem-se à vontade. Julgam-se ovelhas negras e na verdade são... um rebanho delas.

Assim, e salvo honrosas excepções: adeus.

quinta-feira, 11 de março de 2010

I'm lovin it



Quando comemos no McDonald's e passamos a noite a vomitar, ficamos sem poder ver hambúrgueres à frente. Isso não quer dizer que já não gostemos de McDonald's, significa apenas que precisamos de algum tempo para superar o trauma daquela noite que passámos agarrados à sanita.

Passadas algumas semanas, começamos a pensar "ah, mas as batatas fritas são tão boas... e como é que eu vou viver sem os sundaes de chocolate com bolacha?". Até que um dia, pronto, dão-nos um folheto, um folheto fantástico daqueles com folhinhas para rasgar que correspondem a descontos... ficamos espantados com tão generosa atitude e decidimos: "vou dar uma nova oportunidade ao McDonald's!".

Então lá vamos nós, com um misto de alegria e receio, porque nunca se sabe se aquilo não nos dá a volta à tripa outra vez. E pensamos sempre: "tenho de ir com calma, não sou capaz de comer um cheeseburger como se nada tivesse acontecido!". E então começamos a tentar coisas diferentes, comemos um Wrap por exemplo, ou até experimentamos as sopas deles e tudo. Voltar ao mesmo é que não.

E está tudo nas mãos do McDonald's. Se eu chegar a um balcão e perceber que aquele folheto era só conversa fiada (que afinal não posso acrescentar um sundae ao meu menu por apenas 0.59) vou começar a vacilar. Se eu comer um Wrap e ficar mal disposta, vou vacilar. Se eu passar outra noite em sofrimento em que me deito às 5 da manhã e não consigo ir trabalhar no dia seguinte, vou vacilar. Vou começar a pensar "nunca devia ter voltado a comer esta porcaria". E vou acabar por decidir que nunca mais na vida ponho os pés no McDonald's.

Agora... se eu comer uma sopinha e me sentir bem, se passar semanas a experimentar coisas diferentes e boas (como aqueles novos gelados com cones de chocolate), se os empregados me tratarem como deve ser e não se esquecerem de dizer bom dia nem de pôr bolacha no meu sundae, se me derem ofertas promocionais estilo "Vá ao CCB com o Ronald McDonald!!!", então tudo bem. O McDonald's pode acabar por recuperar o seu lugarzinho especial no meu estômago.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

the first flower after the flood


(photo by me)



Tenho escrito vários posts mas depois não chego a publicá-los.
Sobre príncipes e precipícios. Quem sabe um dia.



Quando era miúda vi uns desenhos animados de que nunca mais me esqueci. Contavam a história de uma rapariga nova a quem tinham oferecido um gato bebé. Ela tocava piano (num daqueles pianos de parede, em madeira escura) e ele tinha o hábito de se ir deitar lá em cima, enquanto ela praticava. Ao fim de algum tempo, sempre que ela falhava uma nota, o gatito levantava a cabeça com ar espantado, como se já conhecesse as melodias de cor. Ela parava e recomeçava.

Os anos foram passando, a rapariga tornou-se senhora e o gatinho tornou-se gato. Ela tocava e ele ouvia. E quando o gato estava bem velhote e a senhora percebeu que o fim estava próximo, tocou para ele uma última vez. Sem falhas.

Não sei porquê mas sempre imaginei que aquela senhora era eu e que havia de tocar piano e de ter um gato que me ouvisse. Hoje lembrei-me desta história e de como todos nós procuramos dedicação... na vida, nos outros. A dedicação de uma criança ao piano, a dedicação de um animal ao seu dono. Mas às vezes não funciona assim.


Só quero que a Primavera chegue, dia 21 de Março.

E vou ter um gato.

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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

primeiro estranha-se...


(photo by me)

... depois entranha-se.

Muito se apoquentam os meus pais com o meu interesse repentino pela compra de pares de ténis a seguir a pares de ténis. Até já tenho vergonha de que eles vejam que comprei uns. Sempre que chega uma caixa de cartão com etiquetas do estrangeiro, começo literalmente aos pulinhos no mesmo sítio, como uma criança no dia de Natal. É um facto. E pode ser preocupante para os pais de uma mulher de 26 anos... mas ao menos tenho consciência disso.

Ora, ontem à noite, depois de muito pular no meu quarto quando vi que tinha chegado uma caixa com estes meninos, pus-me a pensar. É certo que foram "os ambientes" que me levaram a "cair" nisto. E que seria muito triste se eu fechasse os olhos a uma série de outras realidades, deixasse de ir ao cinema ou a concertos, para ter dinheiro para a "dose".

Mas há vícios e vícios (e, atenção, eu ainda acho que consigo parar), portanto cabe-me a mim provar que, ainda que os meus pais não compreendam este, estão viciados em algo bastante pior em todos os aspectos: o tabaco.

Porquê? Aqui ficam 5 argumentos.

Ponto 1: Comprar um par de ténis por mês (entre os 70 e os 120 euros, que eu também não abuso muito) pode constituir, em média, um gasto de €95/mês. Comprar um maço de tabaco por dia (a cerca de 3,50 euros cada), constitui em média um gasto de €105/mês. Ténis: 1. Tabaco: 0.

Ponto 2: Os ténis são confortáveis, incentivam a pequenas corridas para apanhar os transportes públicos e contribuem para a saúde dos pés e coluna das pessoas. O tabaco provoca cancro.

Ponto 3: Uns ténis de que gostamos fazem-nos sentir bonitos e são confortáveis, por isso tornam-nos mais sociáveis, permitem-nos dançar mais tempo e melhor (lol), no fundo, facilitam a interacção e podem levar-nos a fazer amigos ou, quem sabe, conhecer a nossa cara-metade. O tabaco? Causa impotência.

Ponto 4: Os ténis são proibidos em certos locais de trabalho. O tabaco reduz a produtividade do trabalhador devido aos famosos "intervalos para o cigarro".

Ponto 5: Ténis? Just do it. Tabaco? Estás a respirar por uma palhinha aos 50 anos.

E mais não digo. Há uns tempos escrevi sobre pessoas que viviam em torno de ténis, cor-de-rosa e doces. E ainda não consigo compreender quem tatua bolos (perdão: cupcakes), gelados e rebuçados na pele, é algo que me ultrapassa, mas pronto. Quanto aos ténis, primeiro estranhei, agora é o que se vê.

Todos os vícios têm os seus perigos, todas as modas têm a sua duração (nota para os pais: isto passa...). a Carrie vibrava com cada par novo de saltos altos, eu ao menos não dou cabo da coluna.

E viv'ós kicks!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Declarações de amor todos os dias

Eu disse-lhe que este texto devia ser lido por toda a gente. Devia ser incluído no programa de ensino de Português (A e B, para não deixar de fora os alunos de ciências, que bem precisam) do 10º ano. Devia ser a mensagem de ano novo do Presidente da República! Devia ser transformado em conto de fadas, daqueles com uma moral no fim, e contado pelas mães e pais aos filhos antes de eles adormecerem. E transformado em romance, para os filhos oferecerem aos pais, quando fizessem anos de casados. Este texto é obrigatório para todos os que pretendem, um dia, ser felizes no amor.

Por isso acho bem que o leiam. Aqui e agora.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

sobre aqueles que desaparecem



O ano passado foi fértil em amizades que deram para o torto. Uma devido a incompatibilidades tardiamente reveladas, outra devido à intolerância, outra devido não sei bem a quê.

Das três que partiram, terei saudades apenas desta última. As outras duas só me deixaram memórias desconfortáveis e alguns arrependimentos. Esta última não.

Lembro-me de que tudo começou com a prenda de anos do ancião. Depois lembro-me de uma loja na Baixa com "tchá" e perucas e chapéus, da busca incessante por um G. I. Joe, de uma tempestade lá longe que resultou num guarda-chuva em pedaços, de um banho inesperado no Tejo que implicou uma ida estratégica aos chineses para comprar calças (e até cuecas) novas, de uma língua que acabava sempre em "e", dos bilhetinhos e mensagens secretas, dos pacotes Nicola, das private jokes, dos ovos Kinder, dos filmes "crackades", de um desmaio no cinema, de um vídeo com uma música sobre (again) guarda-chuvas, das corridas no Mario Kart, dos regressos no comboio naquele sítio ao pé da porta, do Pyramid, do "we've only just begun", da banda sonora mensal (PAM PAM PAM PAMMMMM) que já ninguém podia aturar, de um mergulho urgente para debaixo da mesa no mexicano... e de outras tantas coisas de que eu gostava de me lembrar mas já nem sei. Acima de tudo, lembro-me do sorriso que tinha (mesmo que não na cara) todas as manhãs em que ia trabalhar.

Claro que também me lembro da "Verdade sobre Cães e Gatas", da desilusão que foi pensar que afinal não éramos amigos, só o éramos porque havia uma hidden agenda da outra parte e dos tempos esquisitos que essa revelação suscitou. Mas hoje não me apetece lembrar-me dessa parte.

Eu sei que há coisas que se perdem e há coisas que duram. Mas esta amizade cessou sem um adeus, obrigado, até à próxima. E sem um nunca mais te quero ver. Sem nada. E não devia ser assim. Os amigos têm direito, pelo menos, a uma despedida.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

livro de colorir

Apetecia-me escrever uma história sobre uma rapariga que todos os dias ia para o emprego com o coração cinzento, num comboio cinzento, sentada num banco cinzento, debaixo de um céu cinzento. Talvez um dia eu escreva sobre o que ela fez, uma manhã quando chegou ao emprego e se olhou ao espelho e viu que a sua pele também se estava a tornar cinzenta. Pois o cabelo já tinha começado, meses antes, a ficar cinzento. Ela sabia que um dia ia acabar por se fundir com as paredes forradas de fotocópias a preto e branco, amigas do ambiente. E passaria em frente a essas paredes como que camuflada, sem ninguém dar por ela. Por isso é que ela fez aquilo. Teve de fazer.


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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Às vezes...


(photo by me)

...esqueço-me de que o príncipe encantado não existe. E sempre que isso acontece, é muito mau.