Tenho tendência para me enervar no 25 de abril. Uma parte de mim é muito intolerante e não lida nada bem com opiniões que não valorizam esta data tanto quanto eu. Ou é porque está de chuva, ou porque não adianta nada, ou porque foram sair na noite anterior, ou porque (pior ainda, e mais no caso dos mais novos) já nem sabem bem o que se está a comemorar. Todos estes servem de motivos válidos, talvez, porque cada um sabe de si ou desculpas para não pôr os pés na Avenida da Liberdade nesta data (e em nenhuma outra, diga-se em abono da verdade).
A celebração do 25 de abril é importante para mim. Pelo seu valor histórico, por todo o sofrimento de que nos libertou e, talvez ainda mais importante que tudo isto, porque é uma data de contestação, que pode e deve ser aproveitada para mostrar aos governos de agora aquilo de que não gostamos. Porque, lá está, já temos liberdade para isso. Por este último motivo, considerei especialmente importante marcar presença hoje.
A esmagadora maioria dos meus amigos não foi. Da minha idade, que eu conheça, contam-se pelos dedos de uma mão aqueles que sei que têm consciência política sem estarem diretamente envolvidos em partidos ou em movimentos desta ou daquela ideologia.
Mais grave do que não participar nestas comemorações, porque isso pronto, já fica ao critério de cada um, é mesmo o desconhecimento e desinteresse geral por tudo o que seja ligeiramente "macro", que se afaste da sua realidade pessoal, do seu círculo de amigos ou família e das suas preocupações mesquinhas do dia-a-dia. E depois também há aqueles que mascaram esse desconhecimento total com uma ou outra partilha de cariz mais "ativista" nas redes sociais, para que o seu perfil não pareça (tanto) um rol de inutilidades.
Dou muita importância ao 25 de abril. Não sou comunista. Não me considero "do contra", como já me fizeram sentir algumas vezes. Mas há coisas à minha volta que não consigo aceitar... chamem-me reacionária.