quarta-feira, 25 de abril de 2012

desprezar abril

Tenho tendência para me enervar no 25 de abril. Uma parte de mim é muito intolerante e não lida nada bem com opiniões que não valorizam esta data tanto quanto eu. Ou é porque está de chuva, ou porque não adianta nada, ou porque foram sair na noite anterior, ou porque (pior ainda, e mais no caso dos mais novos) já nem sabem bem o que se está a comemorar. Todos estes servem de motivos válidos, talvez, porque cada um sabe de si ou desculpas para não pôr os pés na Avenida da Liberdade nesta data (e em nenhuma outra, diga-se em abono da verdade).

A celebração do 25 de abril é importante para mim. Pelo seu valor histórico, por todo o sofrimento de que nos libertou e, talvez ainda mais importante que tudo isto, porque é uma data de contestação, que pode e deve ser aproveitada para mostrar aos governos de agora aquilo de que não gostamos. Porque, lá está, já temos liberdade para isso. Por este último motivo, considerei especialmente importante marcar presença hoje

A esmagadora maioria dos meus amigos não foi. Da minha idade, que eu conheça, contam-se pelos dedos de uma mão aqueles que sei que têm consciência política sem estarem diretamente envolvidos em partidos ou em movimentos desta ou daquela ideologia. 

Mais grave do que não participar nestas comemorações, porque isso pronto, já fica ao critério de cada um, é mesmo o desconhecimento e desinteresse geral por tudo o que seja ligeiramente "macro", que se afaste da sua realidade pessoal, do seu círculo de amigos ou família e das suas preocupações mesquinhas do dia-a-dia.  E depois também há aqueles que mascaram esse desconhecimento total com uma ou outra partilha de cariz mais "ativista" nas redes sociais, para que o seu perfil não pareça (tanto) um rol de inutilidades.

Dou muita importância ao 25 de abril. Não sou comunista. Não me considero "do contra", como já me fizeram sentir algumas vezes. Mas há coisas à minha volta que não consigo aceitar... chamem-me reacionária.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

da fuk u talkin bout?!

O ministro das Finanças foi aos Estados Unidos falar com os senhores grandes e, entre as duas ou três coisas acertadas que possa ter dito, resolveu dar-lhes um conselho não solicitado e idiota: não façam como nós, Portugal (leia-se o Governo de Sócrates e as suas políticas "expansionistas") é  um exemplo daquilo que não se deve fazer.

O ministro esperava destacar-se, portanto, do péssimo trabalho do seu antecessor, dar uma de espertalhão vulgo armar-se em bom, numa esperança vã de provocar nos senhores grandes um sentimento de alívio ou até de admiração. Alívio e admiração por estarem na presença deste sr. ministro e não do anterior, alívio porque este é competentíssimo e compreende bem as funções para as quais foi eleito - servir o capital cof cof povo Português.

É o discurso de sempre, aquele que todos (antes de serem eleitos) dizem que não vão ter e ao qual (depois de serem eleitos) não conseguem fugir: a velha história da culpa. Ai.. a culpa... Porque foi o outro e o anterior e o antes desse e vocês nem fazem ideia de como "as coisas" estavam quando lhes pegámos. Porque nós somos super eficientes, eficazes, produtivos e inovadores, mas apesar da nossa competência extrema e inigualável, é impossível trabalhar, não há condições, porque os anteriores e os antes desses fizeram tudo mal, mas só os que não eram "dos nossos" claro.

Tenho pena que um dos senhores grandes não se tenha virado para o senhor ministro das Finanças e lhe tenha perguntado uma coisa simples: "So what?". Foi algo que me ensinaram a perguntar aos artigos que escrevia, quando escrevia, para saber se tinham relevância, e realmente a este senhor ministro fazia-lhe muita falta. Ah e tal o governo anterior era uma desgraça. So what? Ah mas eles fizeram coiso. Who cares? Ah mas a culpa é toda deles. Who gives a shit?!... Porque, sejamos realistas, who gives a shit?

Enquanto os senhores ministros não pararem (de vez!) com o jogo d'a culpa é do outro, não estão concentrados a 100% naquilo que tem de ser feito para mudar "as coisas". E se esperavam que "as coisas" já estivessem mudadas quando se candidataram, azar. Tivessem pensado duas vezes. 

Candidataram-se? Agora governem-se, como um dia acreditaram piamente ser capazes de fazer. And stop the whining!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

ditadura capitalista

O que vou aqui constatar deve ser óbvio para muita gente, mas como já disse não se pretende aqui descobrir a pólvora, apenas relembrar-vos de que ela existe. Acontece que ontem à noite não conseguia dormir de tanto pensar (não conseguir dormir a pensar na "crise" é muito bom... mas acredito que não esteja sozinha nisto) e estive quase para me levantar e ir escrever, porque até me sentia bastante mais eloquente do que agora. Mas enfim, uma pessoa ainda tem de acordar cedo para ir trabalhar graças a deus.

Acredito que vivemos um momento histórico em Portugal, embora isso só se comece a perceber de forma totalmente clara agora. Há coisa de um ano atrás, com a entrada da Troika em ação, deu-se o início de uma ditadura capitalista no nosso país. Mas desta vez, não temos um líder carismático/histérico defensor da "raça" ou dos "bons costumes". E também não temos um Estado que quer engordar, enriquecendo os governantes sob o pretexto de salvar a classe operária. Temos, sim, uma instituição poderosa, de líderes mais ou menos anónimos que querem emagrecer o Estado ao máximo e encher os bolsos, com pressões mais ou menos óbvias sobre o Governo e, em consequência, sobre todos nós. 

Tal e qual como na Alemanha dos anos 30, Portugal estava sedento de um "salvador" (por momentos pensou-se que seria Cavaco Silva LOL) que nos retirasse firmemente (e miraculosamente de preferência) da "cauda da Europa". Fomos então levados a acreditar que vivemos acima das nossas possibilidades durante anos e anos e, como tal, não havia outra hipótese senão pagar, acrescidos de juros exorbitantes, os empréstimos que nos concederam. E dissemos que sim. Mea culpa, mea culpa, mea culpa, nós pagamos.

Sob o pretexto de sermos todos cidadãos europeus honestos que pagam aquilo que devem, o Governo tem vindo a anunciar medidas assustadoras, ao ritmo de uma por dia. Doses controladas de veneno, que o povo possa engolir espaçadamente sem sentir grandes efeitos. Mas na verdade estamos entregues aos chulos, aos agiotas e aos falsos profetas. Já não vivemos em democracia há alguns meses, as decisões não são tomadas pelos governantes a favor do seu povo, mas pelos poderosos a favor do capital (leia-se do capital deles). A favor da desigualdade, do egoísmo, do salve-se quem puder, numa "seleção natural" que  envergonha Darwin, porque agora se rege pela cunha ou pelo berço.

Não sei se os membros do Governo se apercebem, provavelmente sim, não fossem eles os grandes protagonistas desta situação, mas a verdade é esta e temos direito ao pacote completo: medidas de austeridade que nos impedem os movimentos e nos atrasam o desenvolvimento em mais de 10 anos, controlo de informação (ou mesmo censura) e até polícia política.

A democracia acabou, vivemos uma ditadura. É bom que comecemos a tomar consciência disto.

terça-feira, 10 de abril de 2012

conversas sobre a morte


Depois de ver este vídeo, fiquei a pensar na importância de termos uma conversa séria mas não demasiado, sobre essa realidade que nos parece sempre tão distante, mas que na verdade pode estar ao virar da esquina. Para a maioria das pessoas, a morte é um tema deprimente, que mete medo ou tem uma aura mágica qualquer - quase parece que se falarmos muito nela, algo de terrível pode acontecer. Eu própria vou ali bater na madeira três vezes quando acabar de escrever isto.

Mas realmente faz sentido falar sobre isso e decidir, dentro do possível, como se quer morrer - ou como se quer passar os últimos momentos de vida. Isto porque, e como podem ver no vídeo, a morte tem essa coisa chata de traumatizar um bocado aqueles que cá ficam. 

Portanto, falar da nossa própria morte não será um assunto que nos importe muito a nós, mas pode importar imenso para os outros. É uma forma de libertar os que cá ficam do peso da indecisão relativa ao que fazer nessa altura, ou de possíveis traumas relativos a uma morte menos boa. Até porque cada vez mais prolongamos a vida (leia-se a velhice) e pode ser importante (aqui sim, também para nós) decidir se queremos ir de queixo erguido ou já de fralda.

Antigamente ter uma "boa morte" era ir em batalha, rodeado de companheiros de glória, depois de grandes feitos. Talvez ande a ver filmes a mais, mas é essa a ideia que tenho. Pergunto-me como seria uma "boa morte" para as mulheres, mas acho que esse conceito não deve ter evoluído muito com o passar dos tempos... ir deitada e sem grande alarido, já me parece espetacular. Até porque depois levantamo-nos e tomamos o tal pequeno-almoço fabuloso de que vos falei aqui. Faz sentido.

E para vocês, como seria uma "boa morte", ou mais propriamente, como seriam uns "aceitáveizinhos vá, últimos momentos em vida"?

segunda-feira, 9 de abril de 2012

fake del rey?


Falemos da muy recente estrela de pop alternativo (ou o que lhe queiram chamar), Lana del Rey. Está envolta em polémica por anteriormente se ter apresentado sob o nome Lizzy Grant e, devido ao fracasso do "pacote", se ter reapresentado depois, já como Lana e com novo visual pós-cirurgias-plásticas, esse sim, muito apelativo.

Sentindo-se ultrajados, os fãs da "falecida" Lizzy Grant, que pelos vistos se evaporou da mediaesfera na expectativa de ser esquecida, afirmam que Lana é uma fabricação, um produto de mercado, pensado e calculado para pressionar todos os botões certos e gerar milhões. Cara angelical, corpo pecaminoso, numa mistura de white-trash-trailer-park com musa glamourosa dos anos 50 - foi o que bastou para que o público se rendesse a esta "nova" cara e voz. 

Antes vista como uma cantora melancólica, talvez com demasiadas metáforas para um público pouco fã de interpretações difíceis, Lana expressa agora as mesmas metáforas em videoclips bem construídos (geniais, por sinal), que tornam tudo muito mais fácil de entender e muito mais vendável. 

Mas o que me levou mesmo a escrever este post foi o facto de ter lido, num outro blog que sigo, o seguinte: "Algumas pessoas dizem que sua imagem foi criada para ter sucesso, mas honestamente não importa se é real ou não.". Não importa se é real ou não? 

Eu, confesso, sou fã de Lana del Rey. De Lizzy Grant também, ouvi a maioria das suas músicas no YouTube e considero-as (naturalmente) ao mesmo nível das de Lana. Algumas até com uma profundidade que me tocou de forma mais especial. Mas faz-me confusão esta sua transformação. Concordo que é uma fabricação, ou pelo menos parece (a rapariga pode simplesmente ter achado que o look antigo já não dava com nada e ter decidido mudar, a título pessoal, sem implicações comerciais).

Mas nos tempos que correm, esta frase assustou-me um bocadinho. Não importa se é real ou não? Então o que é que importa neste mundo? Estaremos nós assim tão desligados da realidade? É o derradeiro engana-me que eu gosto? Manipulem-me que eu gosto? Alimentem-me de mentiras que eu gosto? No tempo em que ouvia as Spice Girls, isso ainda era aceitável - tínhamos 10 ou 12 anos, queríamos lá saber se as estrelas que adorávamos eram uma fabricação, pensada especialmente para que todas as rapariguinhas se pudessem identificar com uma das 5 cantoras - a desportista, a inocente, a selvagem, a chique ou a provocante... 

Agora, aos 20 e muitos, e tendo em conta o público-alvo de Lana del Rey... não são rapariguinhas de 12 anos de certeza... ou serão? Em todo o caso, isto começa a ser um bocado preocupante.

terça-feira, 3 de abril de 2012

pseudo fashion bloggers

Acho um piadão a pessoal que cria um auto intitulado "blog de moda" e se auto intitula "fashion blogger" única e exclusivamente num exercício narcísico de promoção pessoal. Já vi vários em que, sob a égide da liberdade criativa e das tendências da estação, os autores vão tirando fotografias ao espelho, com trapinhos que compram na Zara ou na H&M e acessórios Feira da Ladra, porque o vintage está muito in. Depois, escrevem duas ou três linhas sobre a sua original criação, traduzem-na mal e porcamente para inglês e espanhol e está feito o post.

Algumas destas bloggers desafiam (e ainda bem) os padrões de beleza da sociedade atual - não são particularmente agradáveis à vista. Mas isto ao ponto de ser impossível considerá-las, lá está, fashion bloggers. Era preferível chamarem àquilo "o blogue em que tiro fotografias a mim própria ao espelho e por acaso, graças a deus, apareço vestida".

Isto porque, para mim, a moda não é bem "o que cada um quiser"... É certo que cada um se veste como bem entende e lhe apetece, mas isto sem pretensões de se tornar "moda".

A moda, como conceito, será uma espécie de limite virtual e utópico que se define para os padrões estéticos de uma sociedade e depois, em cada estação, se tenta alcançar ou superar. Seja o mais bonito, o mais diferente de tudo o que foi feito antes, o mais sentido, o mais ultrajante... o mais qualquer coisa. Se não, para mim, não é bem "moda", nem pode ter pretensões de se tornar moda.

Mas pronto, live and let live. É claro que não estou aqui a defender que os pseudo fashion bloggers sejam erradicados do planeta... eu também dedico este espaço a escrever meia dúzia de opiniões que muitos considerarão ridículas, desinteressantes e pseudo-qualquer-coisa. À chacun son goût.