quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

the first flower after the flood


(photo by me)



Tenho escrito vários posts mas depois não chego a publicá-los.
Sobre príncipes e precipícios. Quem sabe um dia.



Quando era miúda vi uns desenhos animados de que nunca mais me esqueci. Contavam a história de uma rapariga nova a quem tinham oferecido um gato bebé. Ela tocava piano (num daqueles pianos de parede, em madeira escura) e ele tinha o hábito de se ir deitar lá em cima, enquanto ela praticava. Ao fim de algum tempo, sempre que ela falhava uma nota, o gatito levantava a cabeça com ar espantado, como se já conhecesse as melodias de cor. Ela parava e recomeçava.

Os anos foram passando, a rapariga tornou-se senhora e o gatinho tornou-se gato. Ela tocava e ele ouvia. E quando o gato estava bem velhote e a senhora percebeu que o fim estava próximo, tocou para ele uma última vez. Sem falhas.

Não sei porquê mas sempre imaginei que aquela senhora era eu e que havia de tocar piano e de ter um gato que me ouvisse. Hoje lembrei-me desta história e de como todos nós procuramos dedicação... na vida, nos outros. A dedicação de uma criança ao piano, a dedicação de um animal ao seu dono. Mas às vezes não funciona assim.


Só quero que a Primavera chegue, dia 21 de Março.

E vou ter um gato.

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