sexta-feira, 25 de março de 2011

UNITED

"Se as eleições fossem hoje, o centro-direita leia-se PSD reuniria mais de metade das intenções de voto". Faz-me impressão a cambada de débeis mentais que constitui a nossa sociedade. As intenções de voto são determinadas por um único factor: o ódio que têm nesse momento contra o partido que governou anteriormente.

E assim continuaremos.

Fala-se numa grande união da Esquerda, e na minha opinião essa é a única hipótese para algum dia termos no poder um partido que não seja o PS ou o PSD. Só assim o número de votantes de Esquerda poderia ultrapassar o dos acéfalos responsáveis pela manutenção desta rotatividade.

Mas uma união entre partidos de Esquerda implica necessariamente que alguns princípios ganhem em relação a outros. Que nasça uma ideologia com opiniões, propostas e perspectivas variadas, daqui e dali. Qual seria o resultado desse casamento? Qual o peso de cada partido no novo "filhote"?

Estaria o PCP disposto a dissolver-se em algo um pouco diferente do "extremismo" da ideologia que o inspira (e que assusta a generalidade das pessoas)? Ou o BE e os Verdes, por exemplo, dispostos a aproximarem-se dessa mesma ideologia?

Parece-me que lhes falta a todos os intelectuais de Esquerda alguma humildade para que isto possa acontecer.

Desculpem o devaneio mas isto fez-me lembrar dois colegas de um Workshop que ando a fazer, na área do cinema. Tivemos a tarefa de escrever uma história, dois a dois, com base em personagens que nos foram distribuídas. Estes dois colegas são os únicos do Workshop que são mesmo licenciados na área de Cinema. E foram os únicos que não conseguiram trabalhar em conjunto: apresentaram duas histórias individuais, porque não conseguiram descer do seu pedestal de cineasta e aceitar misturar o seu génio cinematográfico um com o outro. O resultado de ambos foi lamentável, deixem que vos diga. As piores histórias da turma.

Serão os partidos de Esquerda capazes de descer do seu pedestal? De aceitar que as suas ideias não são sagradas nem estão escritas na pedra e que podem vir a ganhar muito com a intervenção de outras pessoas?  Seriam eles capazes de abdicar de certas opiniões para criar algo totalmente novo, bonito e, quem sabe, revolucionário (no sentido não assustador da palavra) para o nosso país? E de preferência não um monstro.

Duvido. Mas era muito fixe.

quarta-feira, 23 de março de 2011

"arrebenta a bolha"

O Governo está prestes a cair, diz-se. Daqui a umas horas, diz-se.

A demissão de um governante é vista como uma forma de sair de cena com a cabeça erguida. Num misto de puto mimado e dama incompreendida, o governante sai, por "não ter condições para continuar", porque estão todos contra ele - oposição, povo, o seu próprio Governo - e porque assim Portugal se tornou impossível de governar.

O governante sai atribuindo a culpa à situação, às condições, à oposição, ao povo que o elegeu e que agora se revolta. A demissão é tida como um acto de honra, em que alguém admite que erros foram cometidos e, tal qual japonês intocável, escolhe o harakiri para se retirar e ser lembrado para sempre de cara lavada, pois "pelo menos admitiu que não presta".

Mas uma demissão não é nenhum acto honrado, de quem fez tudo mas não conseguiu. Um governante que se demite, admite a sua incompetência e da sua equipa. Está, no fundo, a fugir com o rabo à seringa de um cargo para o qual se candidatou e para o qual fez campanha, na certeza de que seria a pessoa mais indicada no País inteiro para o desempenhar.

Por isso, na minha opinião, a demissão de um governante não deve ser bem aceite, e muito menos sugerida pelo povo. O dever do governante é cumprir a função para a qual foi eleito. Não há cá "ah afinal não consigo". Não consigo? Estudasse!

Por isso estou um bocadinho triste com a queda do Governo. É apenas outro que diz "já não quero brincar mais" e dá lugar ao próximo que, muito provavelmente, se cansará de brincar também.

segunda-feira, 14 de março de 2011

monstro

Cerca de 300 mil pessoas participaram a nível nacional. Cerca de 300 mil pessoas tiveram vontade suficiente para sair das suas casas e ir mostrar o seu desagrado em relação à situação do país. Mas sabemos que o número de desagradados ronda os 10 milhões.

Agora, no rescaldo das manifestações, ouvem-se vozes que pedem a formação de um novo partido. Está tudo a encaixar. O partido que surgir, se surgir, e se for só um, pode ser visto como uma espécie de salvação da Pátria. Tal como Hitler foi, na altura. 

Cuidado, muito cuidado.

Por isso sou contra a "sangria desatada" que se desencadeou desde sábado. Sou contra a destituição de um Governo via Facebook. Sou muito a favor da manifestação das nossas opiniões, mas também muito a favor da reflexão e da ponderação.

Faço votos de que os ânimos se acalmem, sob pena de que venha a nascer, desta manifestação pacífica e de alegria, uma qualquer monstruosidade.

quero ser feliz



morte à máfia da partidocracia

flexitanga, seguritreta

liberdade, igualdade, fraternidade

quero ser feliz, porra!

quinta-feira, 10 de março de 2011

geração parva

Realmente a quantidade de desinformação que circula nos media, muitas vezes veiculada por odiosos "opinion makers", é assustadora. Eu, que vou manifestar-me no próximo Sábado, já estava a ficar confusa. Pela destituição de toda a classe política? Pelo financiamento dos partidos políticos exclusivamente com base nos seus próprios rendimentos? Contra os nossos pais, porque a culpa é deles?

Não.

É melhor relermos o Manifesto. E agora sim, sem sobra de dúvida, até Sábado.

Manifesto

Nós, desempregados, “quinhentoseuristas” e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal.

Nós, que até agora compactuámos com esta condição, estamos aqui, hoje, para dar o nosso contributo no sentido de desencadear uma mudança qualitativa do país. Estamos aqui, hoje, porque não podemos continuar a aceitar a situação precária para a qual fomos arrastados. Estamos aqui, hoje, porque nos esforçamos diariamente para merecer um futuro digno, com estabilidade e segurança em todas as áreas da nossa vida.

Protestamos para que todos os responsáveis pela nossa actual situação de incerteza - políticos, empregadores e nós mesmos – actuem em conjunto para uma alteração rápida desta realidade, que se tornou insustentável.

Caso contrário:

a) Defrauda-se o presente, por não termos a oportunidade de concretizar o nosso potencial, bloqueando a melhoria das condições económicas e sociais do país. Desperdiçam-se as aspirações de toda uma geração, que não pode prosperar.

b) Insulta-se o passado, porque as gerações anteriores trabalharam pelo nosso acesso à educação, pela nossa segurança, pelos nossos direitos laborais e pela nossa liberdade. Desperdiçam-se décadas de esforço, investimento e dedicação.

c) Hipoteca-se o futuro, que se vislumbra sem educação de qualidade para todos e sem reformas justas para aqueles que trabalham toda a vida. Desperdiçam-se os recursos e competências que poderiam levar o país ao sucesso económico.

Somos a geração com o maior nível de formação na história do país. Por isso, não nos deixamos abater pelo cansaço, nem pela frustração, nem pela falta de perspectivas. Acreditamos que temos os recursos e as ferramentas para dar um futuro melhor a nós mesmos e a Portugal.

Não protestamos contra as outras gerações. Apenas não estamos, nem queremos estar à espera que os problemas se resolvam. Protestamos por uma solução e queremos ser parte dela.