terça-feira, 25 de setembro de 2012

writer's block

Mas estou bem e feliz com a dimensão do que aconteceu dia 15 e dia 21. Dia 29 lá estarei, de joelho ao peito mas tem de ser. Porque não podemos deixar esmorecer este sentimento de união, nem nos podemos deixar assustar pela conversa assustada dos poderosos.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

o porquê da apatia

Hoje ao almoço falava-se mais uma vez sobre onde é que isto tudo vai parar e como é que as pessoas conseguem ficar tão apáticas perante o futuro negro que aí vem. Ou antes porque é que as pessoas andam apáticas. E esta é uma dúvida que tem inflamado muita gente pelas internets da vida.

A meu ver, por dois motivos: ignorância e individualismo. Para ilustrar o primeiro motivo, repare-se no caso recente do toureiro que investiu contra os manifestantes que estavam sentados, em protesto pacífico. Logo se alevantou um sem número de vozes, contra e a favor, escrevendo as mais odiosas palavras sobre o sucedido. E até ao vivo ouvi dizer da vontade que tinham em ir partir as pernas ao toureiro. 

Vemos que, no caso das touradas, a esmagadora maioria dos portugueses sabe mais ou menos onde é que se posiciona: gosta daquilo, ou não gosta daquilo. E consoante a facção, assim se insurgem os sentimentos e assim se chega (por vezes) à acção, seja por via de manifestações pacíficas ou de atropelamentos a cavalo.

Ora, no caso da Troika e da crise, as pessoas não sabem bem. Não percebem exactamente o que aconteceu, só sabem que há desemprego e que a vida está cara, mas não se interrogam sobre os verdadeiros motivos que levaram a isso. Os telejornais estão contaminados de mentiras e notícias difíceis de entender. Presume-se que "eles" têm razão nos cortes, porque nós, presumivelmente, estamos a dever dinheiro aos "outros". Não há conhecimento, logo não há sentimentos e muito menos há acção. 

Na verdade, e como ouvi dizer hoje ao almoço, enquanto houver praia e copos aos fins-de-semana, está tudo bem. Claro que a carteira começa a apertar e com a crise já não se pode comprar a roupa toda que se gostaria de ter, mas não faz mal, usa-se a mesma. Mas é o individualismo que move a minha geração, a procura do prazer imediato, em vez da capacidade para fazer sacrifícios e o incómodo, a trabalheira que seria tentar mudar um estado de coisas.

E pronto, aí estão os dois motivos.

sábado, 1 de setembro de 2012

teorias da conspiração

Os portugueses rezam pela benevolência da Troika, agora que as contas estão à vista de todos e que o resultado é escabroso: todas as medidas impostas pelo governo falharam e o défice continua altíssimo. A Troika pode ser benevolente connosco de várias maneiras, dizem os analistas e os porcos, anafados e suados dos dias quentes que se têm feito sentir: ou nos dão mais margem, em termos de prazo ou de diminuição do défice (temos mais tempo para o diminuir, ou não temos de o diminuir tanto), ou "dobram os seus próprios princípios", aceitando novas medidas extraordinárias (cortes no nosso lombo, a bem dizer) contra as quais se insurgiram no passado.

Ou seja, a Troika, "não gostou", dizem os porcos, dos cortes nos subsídios de Natal aos funcionários públicos. Não gostou. O absurdo começa logo por aqui, já que é extraordinário que uma entidade financeira tenha voto em matéria de governação de um país. Mas há algo tão ou mais preocupante que isso: rezamos pela sua benevolência e a sua benevolência pode vir sob a forma da aceitação de mais medidas de austeridade injustas. As tais, que eles "não gostaram". Ou seja, se forem bonzinhos, até deixam passar mais algumas.

Façamos um bocadinho de futurologia ou teoria da conspiração, como lhe queiram chamar, Imaginemos que "os perigosos de esquerda" (e eu) têm  razão quando dizem que tudo isto é uma manobra do capital financeiro para arruinar o Estado e abrir as portas ao investimento privado no nosso país, dando início a um rol de privatizações (que já começou) que garantirá o encaixe de milhões nos bolsos de um grupo restrito de pessoas, enquanto ao mesmo tempo escraviza os cidadãos à lei da oferta e da procura nos serviços mais básicos e essenciais. 

Ou seja, imaginem este cenário: o Estado está falido, não tem dinheiro para subsidiar mais a Saúde, a Educação, a Televisão Pública (rings a bell?), os CTT, os serviços de água, gás e electricidade, os Transportes...não há dinheiro, dizem os porcos, temos de privatizar. E aí se afiguram logo os grandes magnatas, prontos a comprar. E compram. Compram o negócio da Televisão Pública, compram a água, a luz, o gás. Compram o negócio dos centros de saúde e dos hospitais. Rentabilizam todos esses negócios, despedindo os funcionários obsoletos. E depois praticam os preços que quiserem. Mais ou menos o que vivemos com a gasolina, será (acredito eu) o que viveremos em áreas cruciais, como a Saúde ou a Educação. É o fim do Estado Social e o Liberalismo a exercer-se em pleno, as leis da oferta e da procura regulam tudo, tudo está bem (vê-se, com o caso dos combustíveis). 

Concluindo, os porcos querem fazer-nos acreditar que a Troika está a ser benevolente caso aceite dobrar os seus princípios e acolher mais medidas de austeridade injustas (e até inconstitucionais). Benevolente coisa nenhuma. Na verdade, a Troika estará, dissimuladamente, apenas a cumprir os seus objectivos: garantir que são impostas as medidas certas, as que levam o Estado à falência. Mais impostos, maior contracção na economia, maior défice. É esta a sequência lógica dos acontecimentos. Maior défice, Estado falido. Estado falido, e os cães podem vir comer. E será vê-los comer a nossa Saúde, a nossa Educação, o nosso direito à livre informação... todo o nosso Futuro.