quinta-feira, 17 de maio de 2012

o terror da esquerda

Há tempos escrevi sobre a falta que nos faz uma Esquerda mais unida em Portugal, sobre como o Partido Comunista está preso a dogmas antigos e o Bloco de Esquerda se recusa a aproximar-se dele, criando uma cisão que dificulta a luta por uma sociedade mais justa e igualitária. A juntar a estas dificuldades, ultimamente tenho assistido, perante tanta convulsão social e tanta discussão online, a um autêntico terror da Esquerda. E a uma verdadeira guerra entre Esquerda e Direita, mesmo nos assuntos mais prosaicos. 

Por todo o lado saltam comentadores furiosos contra a "gentalha de esquerda" que "não quer trabalhar", recordando com horror os tempos da União Soviética mal ouvem palavras bonitas, de esperança como "fraternidade", "justiça social" ou "distribuição de riqueza". Se alguém fala em fraternidade, deve ser da maçonaria (que, de repente, se juntou ao rol de odiados pelos portugueses), se falam em "justiça social" são socialistas, tipo Mário Soares, cambada de chupistas que vive para o "tacho"; e, credo, se mencionam a "distribuição de riqueza" então, são perigosos comunistas, alvos a abater.

Por isso pensei em abolir deste blogue (e do meu discurso político em geral) palavras como "capital", "classes", "trabalhadores" ("operários" então, deus me livre), e coisas que tais, que possam servir para me rotularem imediatamente de "comuna", pois nessa altura metade dos meus interlocutores desliga e passa à estratégia do "não estou a ouvir porque podes ter razão e eu não quero". 

Acredito que a nomenclatura devia ser alterada, porque a de agora só serve para confundir e fazer disparar alarmes nas cabeças das pessoas, impossibilitando qualquer diálogo razoável. Por isso li e assinei o Manifesto Para Uma Esquerda Livre com dois sentimentos: primeiro, identifiquei-me com os valores descritos e com algumas das pessoas que os escreveram; mas depois tive medo. Medo que a bandeira da Esquerda seja suficiente para que muita gente lhe vire a cara. Medo que as pessoas não consigam ver para lá do ódio que têm em relação a fracassos do passado. Sim, as ditaduras de extrema esquerda existiram e não podem nunca ser esquecidas, mas acreditam mesmo que a Esquerda atualmente tem esses desígnios na manga? As ideologias, tal como as pessoas, evoluem, mudam, não são estanques. 

Falar-se em partidos ou ideologias de Esquerda já não devia ser sinal de alarme, principalmente quando as políticas de Direita estão bem à vista de todos... quanto a essas não há dúvida nem esperança possível: são o que são. Já quanto à implementação de verdadeiras medidas de Esquerda, como a medida "populista" (saltaram logo os comentadores) de Hollande ao reduzir os salários do Governo, há. Há dúvidas sim... mas ainda há esperança. Assinam?

1 comentário:

Anónimo disse...

Assinado.

N.N.