segunda-feira, 7 de maio de 2012

a saga pingo doce

Eu tinha prometido não escrever sobre isto, mas... não dá. Deixo a minha opinião para quem continua a achar que a campanha não teve nada de mal, ou que até foi muito bem conseguida e um verdadeiro presente para todos os portugueses dado por esta grande instituição de caridade que é o grupo Jerónimo Martins.

A notícia hoje, de que os trabalhadores serão remunerados em 500% pelo dia 1 de Maio, foi a gota de água para mim. As pessoas infelizmente não conseguem ver além do seu próprio umbigo, só assim se explica não se indignarem com esta forma de manipulação. 

Os trabalhadores receberam 500%, e ainda bem, mas isso não anula a pressão exercida (por este Grupo e não só) sobre os produtores nacionais, para venderem cada vez mais barato aos distribuidores chupistas. Não anula o facto de o Pingo Doce pagar os seus impostos na Holanda, cuspindo na cara de quem o alimenta (os portugueses). E não anula o facto de ter escolhido este dia em particular para realizar a grande campanha.

Porque, repare-se, mesmo que a escolha do dia não tenha sido propositada, pareceu um ataque (disfarçado, é certo) das grandes fortunas contra os trabalhadores e contra o seu direito de se manifestar. Pareceu um "vocês trabalham quando eu quero, porque pago-vos 5 vezes o vosso ordenado miserável, julgam que saíram beneficiados mas eu ainda fico a ganhar". Pareceu um "neste dia simbólico para todos os trabalhadores portugueses, e que pode servir para vos lembrar das condições que merecem e não têm, eu vou encher os supermercados e celebrar o consumismo alarve". 

Acentuei pareceu porque, obviamente, ninguém pode apontar o dedo com certezas absolutas à Jerónimo Martins (ainda para mais perante medidas tão "boazinhas" como o salário a quintuplicar). Mas nos tempos que correm, como alguém me ensinou e muito bem, já não basta ser, é preciso também parecer! Ou seja, o Pingo Doce tinha obrigação de saber ao que vinha. As possíveis implicações deviam (se não foram) ter sido pensadas lá pelos grandes estrategas que magicaram a campanha. E isso sim é criticável. Porque para muita gente, como eu, a dúvida, a possibilidade de manipulação, a hipótese remota de isto ser uma forma de promiscuidade entre interesses económicos e políticos disfarçada de caridadezinha, é mais que suficiente para nunca mais lá pôr as patas.

Resumindo, o Pingo Doce com 500%, de uma só penada, cala as vozes contestatárias, mostra-se muito filantropo e amigo dos portugueses e tapa os olhos a quem não consegue nem está interessado em ver além do seu micro-universo. 

O que fizeram foi bom, sim, foi bom para uma minoria: os que usufruíram dos descontos e os trabalhadores do supermercado, que são, pelo que leio, bem tratados. Mas foi mau, muito mau, para todos os outros portugueses: para os de esquerda, para os de direita, para a economia do país e para o futuro de todos, incluindo daqueles que agora se julgam muito beneficiados. É tudo uma questão de ver o filme todo e não só o seu universo pessoal; de ver o amanhã e não só o aqui e agora. Got it?

3 comentários:

filipe disse...

apoiado! gostei e identifico-me com o que li.
curto bué do teu blog.
força continua

chinfrim disse...

:) Obrigada *

Anónimo disse...

Uma maneira de ver a coisa, com argumentos muito bem puxados e uma lógica muito bem construída. Difícil de contradizer, mas apesar de tudo, é uma maneira de ver a coisa.

Coiso