sexta-feira, 6 de julho de 2012

mariquices

Às vezes as pessoas magoam-nos. Umas vezes sem querer, outras de propósito e noutras mesmo sabendo que estamos particularmente frágeis e que os efeitos serão... graves. Sejam os amigos, os namorados ou os pais. Seja porque nos ignoram, porque não nos respeitam, não nos compreendem ou não nos levam a sério. 

Há coisas maiores e coisas quase insignificantes (para quem inflige a dor). E às vezes nem temos razão lógica que nos diga que essas pessoas não o deveriam ter feito, porque até fizemos alguma coisa que o justificasse: ou seja, merecemo-lo de alguma forma. Mas não é com razões lógicas que a coisa vai ao sítio, a dor continua lá.

O que fazer nessas alturas? A tendência é para pôr o sentimento para trás das costas. De alguma forma, não pensando muito nisso, o sentimento dissipa-se e desaparece ao fim de algum tempo. Mas isso é o caminho certo para o ressentimento. E mal damos por nós, esse mesmo sentimento, que pensavamos ter posto para trás das costas, inunda-nos como uma onda.

Hoje disseram-me que é importante acarinhar esses sentimentos negativos. E é verdade. Quando somos crianças, não temos ferramentas para fazê-lo, logo, esse papel cabe aos nossos pais. São eles que nos devem ajudar a lidar com as frustrações, desilusões, fracassos, medos e raivas. São eles que nos devem colo, emocional e literalmente. 

Mas os pais não nascem ensinados e muitas vezes nem lhes passa pela cabeça o que isso é. Ou não compreendem a dimensão da coisa. Especialmente se forem pais que não prestam muita atenção aos seus próprios sentimentos, não os valorizam muito ou (pior ainda) acham que isso são mariquices. Lá está, foram "ensinados" assim. 

Quando crescemos, os pais já não nos devem colo, mas devemo-lo a nós próprios. O problema é que às vezes não sabemos bem como fazê-lo na idade adulta. Já não podemos ir a correr para o colo da mãe a chorar baba e ranho. A ideia de que de repente atingimos a idade adulta e temos de saber lidar com os desaires da vida de cabeça erguida, cheios de força, ou então com a indiferença suficiente para os "ultrapassar" o mais depressa possível é, na minha opinião, um dos maiores enganos da nossa era. E por isso é que os consultórios de psicologia/psicoterapia/psicanálise estão cheios. Cheios de pessoas que em primeiro lugar, não se permitem sofrer. Sofrem mas não o aceitam e como nem o aceitam, não conseguem ficar bem.

Por isso é que é importante darmo-nos colo quando nos magoam. Compreender que temos o direito de nos sentir assim, que somos humanos e como tal temos um espectro de sentimentos enorme e não cabe a ninguém dizer-nos "caga nisso pah!"... Acreditem, com a dor dos outros pode-se muitíssimo bem. 

Se alguma coisa vos ofende, dói ou enerva, olhem para isso tudo. Sintam-no. Racionalizem o quanto baste (compreendam porque se sentem assim), mas acima de tudo permitam-se sentir-se assim. Ninguém morre nem é "um fraco" por estar a sofrer durante um período de tempo. 

E então, como se fossem os pais de uma criança que foi de queixo ao chão, mimem-se de alguma forma e durante o tempo suficiente para ficarem melhor. Seja com idas ao ginásio (para alguns isto não é bem mimo, mas pronto), filmes no cinema, um gelado monumental, ou passeios num sítio que gostem... E não é "vou fazer uma massagem, que isto passa", é "vou à massagem porque me sinto mal, sinto-me péssimo, agora, e quero cuidar de mim para me sentir melhor".

Os sentimentos acabam, então, por dissipar-se. Mas ficam melhor resolvidos. Passar esta ideia aos vossos filhos, se os tiverem, não será mal pensado.

2 comentários:

jp disse...

Como o comentário excedeu o que tinha previsto, aqui:

http://pata-niscas.blogspot.com/2012/07/os-desaires-da-vida.html

Pequeno Cachalote disse...

Não teria dito melhor!