Ontem houve uma situação caricata com uma pessoa que está prestes a sair da empresa. Estava convocada para uma reunião, não apareceu e depois, quando fomos ter com ela para a contextualizar sobre o trabalho que havia a fazer (e perceber porque não tinha saído do lugar), disse que tinha tentado perceber se sempre era para ir ou não à reunião, mas como não nos tinha visto (estávamos ao fundo da sala) tinha-se deixado estar. Isto enquanto corava violentamente. E o ecrã do seu PC mostrava uma qualquer página de um jornal online.
Isto fez-me lembrar a situação do Governo. O nosso Governo comporta-se como um empregado que foi dispensado e está a cumprir os últimos dias de casa. Já não se esforça por chegar a horas e sai sempre um bocadinho mais cedo. Com uma restruturação colada a cuspo, parece que os novos ministros não sabem bem ao que vão, ainda estão a tentar assentar (e perceber porque raio aceitaram o cargo, com certeza), ficar confortáveis para começar a trabalhar. Isto debaixo de fogo intenso por parte do povo, dos comentadores e do próprio partido.
Nesta altura muitos se questionam sobre as verdadeiras vantagens da queda do Governo. É complicado quando a oposição dá sinais claros de não conseguir segurar nada e não haver nenhuma alternativa real à vista. Mas continuo a achar que o Governo tem de cair, por dois motivos.
Primeiro porque, independentemente do que aí venha, já perdeu toda a legitimidade para continuar. As mentiras de Passos estão gravadas num vídeo hilariante de 10 minutos no YouTube. Relvas saiu, mas tarde e com pancadinhas nas costas. Portas revelou-se um fantoche ou uma boneca de trapos. Não há uma figura neste Governo a quem se possa dizer "sim senhor". Não dão uma para a caixa.
E segundo, porque o Governo está "em tilt", ou seja, a pressão, o falatório, a insatisfação é tanta, que Gaspar e Passos avançam como uma debulhadora levando tudo à frente. Já não têm capacidade para parar, respirar e mudar de rumo.
Parece que estamos num compasso de espera. Cai, não cai, será que é desta? Não sabemos. Mas vem aí o 25 de Abril e, esperemos, nova onda de contestação nas ruas. A ver se com mais um abanão forte a coisa cede.
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