domingo, 9 de março de 2014

Tatuagens: 5 regras básicas

A tatuagem está na moda. E com cada vez mais Portugueses a avançar para as agulhas, seria de esperar uma melhoria generalizada em termos de qualidade. Mas continuamos a ser atendidos como carne para canhão em muitos estúdios e a torcer o nariz perante algumas aberrações que vemos na rua. 

Por um lado, isto deve-se aos profissionais em si: ser tatuador tornou-se extremamente apelativo, em termos de salário e de estilo de vida. Os estúdios propagam-se como cogumelos, à revelia da experiência, condições de higiene e talento de quem abre as portas. Por outro, deve-se aos próprios clientes: o desconhecimento total do "mundo da tatuagem" leva a que a esmagadora maioria tenha níveis de exigência muitíssimo baixos em relação ao que lhes é posto na pele. Simplesmente nem sabem que poderiam ter muito melhor (melhor = algo que lhes agradasse muito mais) e avançam para o estúdio mais barato ou que esteja mais perto de casa.

São raras as pessoas que hoje não "pensam em fazer uma tatuagem". Todos têm uma ideia, ou várias, mas não sabem o sítio do corpo onde a encaixar; ou sabem que gostavam de ter qualquer coisa (na nuca, no fundo das costas, talvez uma frase nas costelas), mas não sabem bem o quê. Para os que realmente decidirem levar a ideia por diante, depois de meses (ou anos) de ponderada consideração (espero), aqui ficam as minhas 5 regras básicas, antes de partir para a ação:

1 - Escolher um estilo. Atrevo-me a dizer que a maioria das pessoas desconhece que existem vários estilos na arte da Tatuagem. Pensam que "um dragão nas costas" é informação suficiente para qualquer tatuador chegar a algo que os satisfaça plenamente. Acontece que um dragão (ou outra coisa) pode ser desenhado de mil formas diferentes, pelo que convém ao cliente perceber o estilo que pretende: quer um dragão realista? Uma coisa mais "dark" ou mais para o "cartoon"? Tribal? Old School? Japonês? Neo Tradicional? Pois. Mesmo que não se conheçam os estilos pelo nome, é obrigatório ver o trabalho de vários tatuadores e perceber que estilo de desenho e cores gostam mais. Comprem o Anuário Tattoo & Piercing deste ano ou dos anteriores (uma revista à venda nas papelarias) e percebam, sintam, o que gostam mais. E é para toda a vida...

2 - Escolher um tatuador. Depois de se optar por um estilo, vamos à procura do melhor artista dentro desse estilo. Não vamos tatuar com o Zé Manel Old School se queremos um dragão japonês. Isto leva-nos a um ponto interessante. A diferença entre um artista e um copista. Há bons desenhadores que não tatuam muito bem. E há tatuadores experientes com técnicas espetaculares, mas que não desenham nada de raiz, só copiam as fotografias que lhes levamos da Internet! E depois há aquelas pérolas raras: o artista que desenha uma peça única, pensada especialmente para cada cliente, e depois a tatua na perfeição. Se o que querem é algo específico e concreto (uma Betty Boop, um Bugs Bunny, o símbolo do vosso clube, etc), escolham um bom copista. Se querem tatuar "um conceito", uma ideia que pode ser transmitida de várias formas, escolham um artista (lá está, dentro do estilo que previamente escolheram para a peça). Como perceber isto? Perguntem a cada tatuador qual é a sua forma de trabalhar. É "traz-me o desenho" ou "fala-me sobre a tua ideia"? E se não vos agradar, fujam. Trust me, já tive arrependimentos nesse campo e paguei sempre balúrdios pelas minhas tatuagens. A reter: não tatuem nada sem ter na mão o rascunho completo. Isto aplica-se a todas as tatuagens, das mais simples às mais complexas (mesmo uma manga, ou as costas todas, ou algo em que vos digam "vamos vendo conforme formos avançando"). Não. Vejam o resultado final (ou pelo menos aproximado) todo, antes de começar. Já caí nesse erro. Outra: as agulhas são abertas à vossa frente. Alguma coisa caiu ao chão (sejam agulhas ou outras partes lá das maquinetas deles)? Manda fora e abram uma nova. O estúdio tem mau aspecto? Há crianças na zona de trabalho? Há animais? Os acidentes acontecem. Fujam.

3 - Pensar bem no sítio do corpo a tatuar. A tatuagem deve complementar e enaltecer uma zona do corpo. Não deve ser um mamarracho que distorça as nossas linhas naturais quando a vemos. Por exemplo, tatuar uma flor enorme e cor-de-laranja no peito esquerdo? Má ideia. Vai parecer um crachá. Optem por formas que encaixem bem na zona do corpo, por simetrias, ou pelo menos tenham em conta regras básicas de harmonia. Atenção também ao tamanho das peças. É impossível pedir algo super detalhado numa zona pequena: vai acabar por transformar-se num borrão. Mais uma vez, observem o tatuador. Se for bom, vai aconselhar-vos nesse sentido. Se só quiser fazer dinheiro, diz que vos tatua a família inteira na nuca. Fujam. 

4 - Saber quanto custa. Há tatuadores caros, baratos, e depois há aqueles que não vos dizem quanto vai custar. Principalmente se for uma peça grande, feita em várias sessões, exijam saber o valor máximo que pode atingir, antes de começar. Isto pode parecer básico, mas falar de dinheiro é sempre desagradável, ainda por cima quando se trata de uma coisa tão "espiritual" (para alguns) como é fazer uma tatuagem. Por isso é fundamental definir, pelo menos, um teto máximo para o preço, independentemente do número de sessões que venham a ser necessárias. Se o tatuador não vos "souber" dizer, fujam. Ou exijam. Se pagam, têm o direito a saber quanto, com antecedência.

5 - Conhecer os requisitos físicos e o processo de cicatrização. Newsflash: fazer tatuagens dói. É tolerável, dependendo sempre do sítio do corpo e da duração do massacre. Mas ao fim de 2 a 3 horas no máximo vai doer, e muito. O vosso corpo vai ficar tenso, poderão sentir frio, ter espasmos em sítios estranhos (a minha perna direita ganha vida própria quando estou a tatuar os braços) e estão a perder sangue, por isso podem em até cair para o lado. Falem com o tatuador durante o processo, avisem se estiverem zonzos, cansados ou com fome! É fundamental comer bem antes (não estou a dizer para se empanturrarem), fazer intervalos para comer e beber, e comer bem depois. E dormir, muito. O processo de cicatrização é chato, incómodo e mesmo doloroso nos primeiros dias. É obrigatório seguir as instruções do tatuador. Ele diz-vos que isso "tanto faz"? Fujam. Ou ignorem-no e sigam esta receita simples: película aderente durante 3 a 4 dias (sim, SEMPRE, mudada de 12 em 12h); ao mudar, lavar a tatuagem com água fria ou morna e sabonete de glicerina (ou só com água); e pôr uma camada fina de Bepantene Plus antes de enrolar a ferida outra vez em película. Depois do período da película, aplicar Bepantene várias vezes ao dia durante mais 3 semanas.

E é isto. Tenho a certeza de que haverá muito a fazer do lado dos profissionais, mas deixo os meus dois tostões aos que estão do lado do cliente, como eu. Se tiverem pontos a acrescentar, sou toda ouvidos.




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