domingo, 12 de setembro de 2021

A minha folha em branco

 A minha folha em branco não é de papel,

mas de descrença e desalento.

Sou a criança que ficou em segundo lugar

e nunca chegou a apreciar

a futilidade do resultado.

A emoção do jogo, a entrega àquele momento

empalidecem ainda perante o portento 

da classificação.

Marcado a ferro ardente na memória

fica o medo, a vergonha, a aflição;

não tanto dos outros, mas do espelho

que devolve a certeza da próxima desilusão.

A minha folha em branco é cortante e afiada,

exige tudo e não dá nada,

 e a minha alma, amachucada,

guarda no silêncio ou no anonimato

estes arriscados exercícios de ser.

Ser sem apreciação, sem mérito ou exclusão,

ser em pleno e pleno de confiança

esse estranho privilégio... dos loucos 

ou dos que tiveram mais colo em criança.


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