A minha folha em branco não é de papel,
mas de descrença e desalento.
Sou a criança que ficou em segundo lugar
e nunca chegou a apreciar
a futilidade do resultado.
A emoção do jogo, a entrega àquele momento
empalidecem ainda perante o portento
da classificação.
Marcado a ferro ardente na memória
fica o medo, a vergonha, a aflição;
não tanto dos outros, mas do espelho
que devolve a certeza da próxima desilusão.
A minha folha em branco é cortante e afiada,
exige tudo e não dá nada,
e a minha alma, amachucada,
guarda no silêncio ou no anonimato
estes arriscados exercícios de ser.
Ser sem apreciação, sem mérito ou exclusão,
ser em pleno e pleno de confiança
esse estranho privilégio... dos loucos
ou dos que tiveram mais colo em criança.
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