terça-feira, 22 de dezembro de 2009

curta



"Volátil venenoso perturbador e a cura que não chega esse bálsamo apaziguador de que o pastor tão eloquentemente falou mas que te deve ter entrado a 100 e saído a 200 e hás de colher toda a solidão e trevas que plantaste a cada dia com as tuas palavras ácidas e silêncios gélidos.

Uma mãe não devia falar assim mas, naquela noite escura, ela teve de entrar no quarto e de lhe segredar ao ouvido tudo aquilo que ele pareceu desaprender com anos de entrega a si próprio e ódio ao mundo.

Porque tu não nasceste cego foi o mundo que te fez ficar assim o teu mundo sempre primeiro que o dos outros porque os outros não sabem como é não fazem ideia do que é nem nunca hão de fazer e ainda bem em vez desse desapego a todos apesar desse desapego a todos tu tens de viver por isso vive meu filho vive intensamente mesmo que doa porque ela não vai esperar por ti e não são pedras mas rosas que ela te pede e se deres pontapés pontapés recebes mesmo que essa lição te tenha sido ensinada ao contrário quando tinhas dez anos."



Já vejo a Ubume a pairar uns centímetros acima do chão de madeira,
longos cabelos negros a cobrir-lhe a cara, o tronco, os pés.
A pairar devagarinho sobre o corpo dele, deitado...
(cabelos que lhe fazem comichão nos braços nus)
e a segredar-lhe a verdade ao ouvido.

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