terça-feira, 19 de janeiro de 2010

sobre aqueles que desaparecem



O ano passado foi fértil em amizades que deram para o torto. Uma devido a incompatibilidades tardiamente reveladas, outra devido à intolerância, outra devido não sei bem a quê.

Das três que partiram, terei saudades apenas desta última. As outras duas só me deixaram memórias desconfortáveis e alguns arrependimentos. Esta última não.

Lembro-me de que tudo começou com a prenda de anos do ancião. Depois lembro-me de uma loja na Baixa com "tchá" e perucas e chapéus, da busca incessante por um G. I. Joe, de uma tempestade lá longe que resultou num guarda-chuva em pedaços, de um banho inesperado no Tejo que implicou uma ida estratégica aos chineses para comprar calças (e até cuecas) novas, de uma língua que acabava sempre em "e", dos bilhetinhos e mensagens secretas, dos pacotes Nicola, das private jokes, dos ovos Kinder, dos filmes "crackades", de um desmaio no cinema, de um vídeo com uma música sobre (again) guarda-chuvas, das corridas no Mario Kart, dos regressos no comboio naquele sítio ao pé da porta, do Pyramid, do "we've only just begun", da banda sonora mensal (PAM PAM PAM PAMMMMM) que já ninguém podia aturar, de um mergulho urgente para debaixo da mesa no mexicano... e de outras tantas coisas de que eu gostava de me lembrar mas já nem sei. Acima de tudo, lembro-me do sorriso que tinha (mesmo que não na cara) todas as manhãs em que ia trabalhar.

Claro que também me lembro da "Verdade sobre Cães e Gatas", da desilusão que foi pensar que afinal não éramos amigos, só o éramos porque havia uma hidden agenda da outra parte e dos tempos esquisitos que essa revelação suscitou. Mas hoje não me apetece lembrar-me dessa parte.

Eu sei que há coisas que se perdem e há coisas que duram. Mas esta amizade cessou sem um adeus, obrigado, até à próxima. E sem um nunca mais te quero ver. Sem nada. E não devia ser assim. Os amigos têm direito, pelo menos, a uma despedida.

7 comentários:

konka disse...

mais vale "honradamente só" do que humilhadamente acompanhado!

Bom Texto!!

Carolina Flores disse...

:´)

chinfrim disse...

:) aos dois.

um cigarro. disse...

eu sempre acreditei que as pessoas passam pelas mesmas coisas mas em alturas da vida diferentes e demonstradas de diferentes formas. nunca me reli tanto num texto teu, não porque está ou não bonito, com ou sem palavras certas, mas porque a perda e o fim são coisas que, juntas, fazem muitos estragos. principalmente quando queremos muito aceitar que o silencio também é uma forma de expressão, mas que "$%#"&@! diz algo, diz porque!". passei e continuo a passar (desde ha muito tempo) uma situação muito parecida. são realmente três pessoas importantes que, ainda hoje, me fazem perguntar porque se separaram. e porque continuam sentadas, algumas vezes, na mesma mesa, como se nada fosse, sem existir uma explicação. não sei se é fingimento se é apenas um comodismo natural que já passou a banal. mas tudo, com alguma distancia e tempo (e dor), passa a ser mais leve. e o que hoje dói muito, amanhã pode ser pó. agora vou aprendendo e seleccionando apenas que significados quero dar à amizade.

the blogger disse...

:s
belo texto, linda.
espero q este ano não percas mais ngm :S
Beijo.

Anónimo disse...

"When people walk away, let them walk. Your destiny isn’t tied to anybody that left."

chinfrim disse...

Se eu quero a amizade de uma pessoa (ou o amor), não a deixo ir embora de ânimo leve. Pelo menos "estrebucho" um bocado, mesmo que no final a deixe partir. Aquilo do "If you love someoene, set them free" é muito poético, mas acho que só as pessoas que não significaram assim muito para nós é que podem partir sem que nos importemos, nem façamos algo de concreto para o tentar impedir.

Mas claro que, se acreditas no destino, então cruzas os braços e aceitas placidamente que a pessoa "não estava destinada" a ser tua amiga/companheira... eu abomino este ponto de vista, mas conheço vários casos assim, infelizmente.