sexta-feira, 13 de julho de 2012

o poder do quarto poder

O caso Relvas serve, não só para nos indignarmos com a corja desprovida de valores éticos que povoa o atual Governo, mas também para fazer uma pequena reflexão sobre o quarto poder. 

Relvas exerceu pressões ilícitas sobre uma jornalista do Público. O caso foi empurrado para debaixo do tapete no Parlamento e depois pelo poder Judicial (se é que podemos usar esta designação perante uma entidade tão inútil como a ERC); de Cavaco Silva nem um pio. Relvas safou-se do incidente sem consequências, mantendo o tacho, e até com energia reforçada para fazer o que lhe der na real gana, pois confirmou que era intocável.

Um a um, os três poderes calaram-se perante o caso, ou (pior) apoiaram Relvas. Já com o quarto (e aqui lesado) não foi bem assim.

Iniciou-se uma verdadeira perseguição a Relvas, com denúncias de irregularidades, esquemas e troca de favores que criaram um escândalo em torno deste senhor. Um escândalo em torno de um assunto até relativamente insignificante (ou neste País, nem tanto): a validade do seu canudo. De repente, o intocável que não se viu a braços com a Justiça, viu-se apanhado pelo polvo do quarto poder... e que polvo.

Penso que se podem retirar duas conclusões importantes deste caso. A primeira é que os poderes Judicial, Legislativo e Executivo estão moribundos em Portugal: não funcionam e não têm crédito. A segunda é que o quarto poder, o poder dos media, está vivo e recomenda-se. Nunca uma classe se organizou tão bem para vingar um dos seus e nunca foi tão fácil pegar num assunto corriqueiro e dar-lhe a força suficiente para arruinar a reputação de um homem. Porque independentemente do que lhe aconteça, fica mal visto o resto da vida. Ele, os amigos dele e a família dele, porque as coisas neste País funcionam assim.

Relvas tornou-se um alvo a abater. E ainda estamos para ver se não será abatido: se se demitir ou for afastado pelo Governo, não podemos propriamente dizer que se fez justiça, nem que a moral e ética do nosso País afinal ainda povoam os corredores do Parlamento. Não, essa já se perdeu comprovadamente há muito tempo. Poderemos dizer, sim, que estamos perante uma vitória dos media e que o quarto poder está, de facto, poderosíssimo.

Não se entende portanto, que uma classe com esta capacidade não se una, numa ação concertada e patriótica, e faça um bocadinho o trabalho que outros se recusam a fazer: descobrir os verdadeiros responsáveis pelo buraco financeiro e obrigá-los, por via da escandaleira, a enfrentar a Justiça. A responsabilidade dos media é denunciar, esse sim é o verdadeiro, honorável, valioso Jornalismo. Mostraram que tinham força para isso quando a injustiça lhes bateu à porta? Então usem essa mesma força para o bem de todos nós.

4 comentários:

mjc disse...

Bem dito.
Denunciar para que o povo julgue.

Patrícia Rodrigues disse...

De facto, deveriam usar o seu poder para acabar com uma cambada de palhaçadas que andam a acontecer, mas parece-me que são demasiado selectivos...

Anónimo disse...

All rigth!!!!!
Não imagino melhor!
Verdadeiro e justo, mobilizador, conciso e acutilante, este texto sintetiza o que eu considero importante quando se escreve sobre um assunto, qualquer assunto.
O Relvas personifica actualmente o Dantas que Almada Negreiros arrasou no manifesto que se intitulava precisamente "o manifesto anti Dantas". Miguel Relvas é um pigmeu intelectual, um insecto rastejante, que através de golpes e esperteza saloia chegou a ministro. Não vale nada, daqui a uns anos ninguém se lembrará dele. Se a comunicação social o tem como alvo, acho muito bem, mas preocupa-me que se escreva muito para "vender",mais do que é desejável.
Já agora ,para quem não conhece, aconselho que se leia o manifesto. Há uma óptima versão dita por Mário Viegas.

Corta relva

Susana Martins disse...

Adorei! Escreveste muito bem. União para obter resultados!