sábado, 1 de setembro de 2012

teorias da conspiração

Os portugueses rezam pela benevolência da Troika, agora que as contas estão à vista de todos e que o resultado é escabroso: todas as medidas impostas pelo governo falharam e o défice continua altíssimo. A Troika pode ser benevolente connosco de várias maneiras, dizem os analistas e os porcos, anafados e suados dos dias quentes que se têm feito sentir: ou nos dão mais margem, em termos de prazo ou de diminuição do défice (temos mais tempo para o diminuir, ou não temos de o diminuir tanto), ou "dobram os seus próprios princípios", aceitando novas medidas extraordinárias (cortes no nosso lombo, a bem dizer) contra as quais se insurgiram no passado.

Ou seja, a Troika, "não gostou", dizem os porcos, dos cortes nos subsídios de Natal aos funcionários públicos. Não gostou. O absurdo começa logo por aqui, já que é extraordinário que uma entidade financeira tenha voto em matéria de governação de um país. Mas há algo tão ou mais preocupante que isso: rezamos pela sua benevolência e a sua benevolência pode vir sob a forma da aceitação de mais medidas de austeridade injustas. As tais, que eles "não gostaram". Ou seja, se forem bonzinhos, até deixam passar mais algumas.

Façamos um bocadinho de futurologia ou teoria da conspiração, como lhe queiram chamar, Imaginemos que "os perigosos de esquerda" (e eu) têm  razão quando dizem que tudo isto é uma manobra do capital financeiro para arruinar o Estado e abrir as portas ao investimento privado no nosso país, dando início a um rol de privatizações (que já começou) que garantirá o encaixe de milhões nos bolsos de um grupo restrito de pessoas, enquanto ao mesmo tempo escraviza os cidadãos à lei da oferta e da procura nos serviços mais básicos e essenciais. 

Ou seja, imaginem este cenário: o Estado está falido, não tem dinheiro para subsidiar mais a Saúde, a Educação, a Televisão Pública (rings a bell?), os CTT, os serviços de água, gás e electricidade, os Transportes...não há dinheiro, dizem os porcos, temos de privatizar. E aí se afiguram logo os grandes magnatas, prontos a comprar. E compram. Compram o negócio da Televisão Pública, compram a água, a luz, o gás. Compram o negócio dos centros de saúde e dos hospitais. Rentabilizam todos esses negócios, despedindo os funcionários obsoletos. E depois praticam os preços que quiserem. Mais ou menos o que vivemos com a gasolina, será (acredito eu) o que viveremos em áreas cruciais, como a Saúde ou a Educação. É o fim do Estado Social e o Liberalismo a exercer-se em pleno, as leis da oferta e da procura regulam tudo, tudo está bem (vê-se, com o caso dos combustíveis). 

Concluindo, os porcos querem fazer-nos acreditar que a Troika está a ser benevolente caso aceite dobrar os seus princípios e acolher mais medidas de austeridade injustas (e até inconstitucionais). Benevolente coisa nenhuma. Na verdade, a Troika estará, dissimuladamente, apenas a cumprir os seus objectivos: garantir que são impostas as medidas certas, as que levam o Estado à falência. Mais impostos, maior contracção na economia, maior défice. É esta a sequência lógica dos acontecimentos. Maior défice, Estado falido. Estado falido, e os cães podem vir comer. E será vê-los comer a nossa Saúde, a nossa Educação, o nosso direito à livre informação... todo o nosso Futuro.

1 comentário:

jotacmarques disse...

All rigth!

Sharp and clear...that's my little girl!