sexta-feira, 16 de novembro de 2012

só não vê quem não quer

Umas palavras relativamente à greve de dia 14, em especial aos confrontos com a polícia em frente à Assembleia da República. Estes foram os factos que apurei, através de jornais e dos relatos de pessoas em quem confio e que presenciaram os acontecimentos:

  • estiveram presentes aproximadamente 5 mil manifestantes em frente à AR
  • houve um grupo de cerca de 40 pessoas que atacou e insultou as forças de segurança no local
  • o ataque deste grupo durou cerca de 2 horas
  • o grupo era constituído por adolescentes (pelo menos um com 15 anos) e adultos, aparentemente sem pertencer a nenhum grupo organizado nem ter especial orientação política
  • a polícia manteve-se firme e não agiu durante esse período de tempo, no sentido de deter os atacantes nem de impor a ordem
  • havia polícias à paisana no local, entre os manifestantes, que também não agiram nesse sentido
  • elementos do grupo de manifestantes colocaram-se entre os atacantes e a polícia, tentando interromper o lançamento de pedras, sem sucesso
  • duas horas depois, a polícia utilizou um megafone para tentar dispersar as pessoas e através do qual anunciou que ia avançar sobre os manifestantes, momentos antes de o fazer
  • a polícia avançou sobre os manifestantes, atacando pessoas indiscriminadamente
  • a polícia insultou e espancou centenas de pessoas, entre manifestantes inocentes, atiradores de pedras, idosos, pessoas que transportavam crianças e pessoas que nem estavam a manifestar-se
  • pelo menos um homem sem-abrigo foi espancado pela polícia, num jardim na zona de Santos, sem que tivesse sequer estado presente na manifestação

Conclusões que se podem retirar deste cenário... a atuação da polícia não foi «exemplar» conforme a classificou (vergonhosamente) Cavaco e Passos Coelho. Longe disso. Por que motivo não foram os atacantes imediatamente imobilizados e detidos? Por que motivo a polícia deixou escalar a situação, quando poderia perfeitamente, ao longo de duas horas, ter identificado os culpados e evitar o massacre que se seguiu? A polícia teve, claramente, ordens para não agir. Se as ordens foram prévias ou ocorreram ao longo do ataque com pedras, não sei. Mas qual a importância dessas ordens e quais os seus verdadeiros motivos? 

As consequências desta atuação estão à vista: o medo. Medo de nos manifestarmos livremente. E essa foi, sem sombra de dúvidas, a maior vitória deste Governo. Curioso é também o facto de tudo isto ter acontecido depois de o Governo ter anunciado, para o Orçamento de 2013, um aumento de 10% para o Ministério da Administração Interna.

Posto isto, só não vê quem não quer. Resta-nos denunciar, denunciar, denunciar. Para que não haja medo. Para que continuemos a manifestar-nos, de preferência protegidos pelos órgãos de segurança a quem pagamos mensalmente, através dos nossos impostos. Não tenhamos medo, continuemos lá.


1 comentário:

maria joão carrilho disse...

Tal e qual.
A quem serve o medo?

Lúcido, lógico , este texto.