quarta-feira, 2 de julho de 2014

indecisos anónimos

Passei os últimos 2 dias a aprender sobre escolhas e a tomada de decisões. Como indecisa inveterada, este é um tema que me interessa. Deparamo-nos com imensas escolhas ao longo da vida, umas mais importantes que outras (a sociedade de consumo assim o permite), mas o que é facto é que temos imensa "liberdade de escolha": podemos e devemos tomar decisões sobre tudo. 

A primeira coisa que aprendi na minha "demanda" foi que, quando a vida nos apresenta uma escolha difícil, está na verdade a dar-nos uma oportunidade de decidir quem queremos ser. Se nos oferecem um trabalho novo e ficamos dias a pesar os prós e contras, matamos a cabeça com a dúvida sobre qual será o caminho certo, é tempo de parar. Não há um caminho certo, há apenas o caminho da nossa vida - a escolha sobre quem queremos ser. Não há respostas erradas, por isso podemos respirar de alívio. Podemos? 

Seria muito bonito mas, para algumas pessoas (eu incluída), tomar decisões sobre a sua própria vida é muito complicado. Mais uns quantos vídeos e aprendi que isso pode dever-se ao facto de que o nosso Eu não é necessariamente APENAS o eu, mas incluir também as pessoas que são importantes para nós. Ou seja, quando tomamos uma decisão difícil sobre a nossa vida (e sobre quem queremos ser), alguns de nós incluem, como parte integrante do seu Eu, as suas pessoas mais próximas. O que é que os meus pais, o meu namorado, os meus amigos pensariam desta escolha? Logo, escolher é (para alguns, como eu) um acto inclusivo, de um Eu colectivo, o que chama a si mesmo uma série de variáveis e dificulta, ainda mais, a escolha.

Pessoas que vivem "em função" dos outros (ou têm muito em conta a opinião dos outros sobre as suas próprias escolhas) podem ser apelidadas de fracas, burras, ou mesmo "anhadas" (essa pérola da nossa sempre-evolutiva-língua). Mas na verdade podem apenas ter sido habituadas a ter um Eu inclusivo e simplesmente não conseguir tomar algumas decisões individualmente. O que me leva a perguntar: porque é que nos é exigido escolher sobre temas que não dominamos? Porque saber escolher faz parte de ser adulto. Será? Vejamos um exemplo concreto recente. E se eu tiver à minha frente umas dezenas de máscaras africanas numa feira, querer comprar uma, mas não perceber patavina daquilo? Junte-se à equação a "pressão" dos que me rodeiam, do meu Eu colectivo, e está criada a receita para o desastre. Torna-se especialmente difícil sequer perceber, sentir de que máscara é que eu gosto mais. O que nos leva à terceira coisa que aprendi.

Escolher perante uma grande diversidade de opções provoca necessariamente sentimentos de frustração na pessoa que escolhe. Isto porque não há apenas uma escolha acertada - todas as opções, geralmente, apresentam vantagens - pelo que, independentemente da escolha, podíamos sempre ter ficado "mais bem servidos", dependendo do valor que damos às vantagens das coisas que optámos por não escolher. E quem é o responsável pela nossa frustração? Nós próprios, porque fomos nós que, ao fazer uma escolha, deixámos as outras de fora. E agora? Não se pode escolher tudo, temos de escolher só uma ou duas, ou TRÊS (red alert!! não sabes escolher!) máscaras. Em que ficamos? Somos indecisos, fracos, pouco perspicazes. Se uma pessoa for perfeccionista então, escolher, ou tomar decisões, é um pesadelo. Não há desculpa para falhar quando tínhamos tantas opções disponíveis... e uma escolha "errada" é inteiramente da nossa responsabilidade. Logo, somos um falhanço.

A diversidade de opções e a dificuldade em lidar com as escolhas que ficam de fora leva-nos a cair na situação infeliz de NUNCA estar inteiramente satisfeito. Quando escolhemos fazer qualquer coisa, podíamos estar a usufruir das vantagens de ter escolhido outra. Isto acontece-me frequentemente. E com alguma frequência também sinto que não estou a dar 100% de mim quando fui eu que optei por fazer o que estou a fazer. No trabalho estou bem, estou aqui porque me mandam e faço o que me mandam. Mas se pudesse optar, estaria provavelmente um pouco pior. Os fins de semana são por isso, especialmente martirizantes. Se estou a ver televisão podia estar a jogar computador. Se estou a jogar computador podia estar a dar um passeio. Se como hidratos podia estar a comer salada. Se como peixe grelhado podia estar a comer hidratos, porque afinal até é fim de semana e a pessoa tem direito a relaxar. É esgotante.



É muito difícil ser-se indeciso. Mais difícil ainda é ser-se julgado por não "saber escolher". A solução será evitar a escolha e deixar que decidam por nós? Isso será tido como um acto de enorme cobardia perante todos os que não padecem deste mal. Mas em alguns casos será, certamente, a melhor escolha. Só vos peço que  a façam por mim - de bom grado abdico de algumas escolhas, mas façam-no por mim, para que não tenha de ser eu a fazer essa escolha.

3 comentários:

mjc disse...


A pior escolha do universo : permitir que os outros escolham por mim; odeio. As más escolhas acontecem, cá estamos para aprender ( ???) a lição.Música- that's life,...

Anónimo disse...

Só de ler fiquei cansado,quanto mais compreender razo
avelmente! Bom, o que é que eu posso dizer? Se calhar pouco ou nada, porque se trata do processo mental de uma pessoa, e aqui cada um como cada qual. Quer dizer, a uma opinião corresponde sempre um juízo de valor e, ninguém deve de se assumir como juiz do seu semelhante.
Chegados aqui, a única coisa razoável a fazer é desvendar o nosso próprio " processo mental " que, a servir para qualquer coisa, será únicamente como padrão de comparação. Assim, e no reconhecimento de que muito do que li é verdade, a simplificação resolve-me muito o problema. Quando tenho que escolher e decidir entre múltiplicas opções, escolho o que me parece melhor, decido-me e pronto, o assunto está arrumado e não penso mais nisso. Não me questiono, não ponho em causa a minha escolha e,se mais tarde se verificar que foi mau, resigno-me e aguento que é serviço. Em situação idêntica, faço outra vez o mesmo, e por aí fora...
Uma equação, um sistema de equações, contem um número limite de variáveis ou é irresoluvél, impossível. Uma escolha segue o mesmo príncipio, e aquilo que os outros pensam, considero até ao ponto de não prejudicar ou incomodar alguém, ponto.

Resolvido

chinfrim disse...

Claro que este processo mental não está presente em TODAS as escolhas, graças a deus. Mas existe. E talvez por isso digam que sou uma criatura rotineira: a rotina salva-me de ter de escolher outras coisas. De facto parece tão simples, tão BÁSICO escolher "o melhor" e não pôr em causa a nossa escolha... mas para mim estranhamente não é... cada um com a sua pancada :)