
Sempre que se aproximava o fim do ano, ele sentia-se como se estivesse a descer uma encosta a alta velocidade. Ou como se estivesse a fazer uma viagem de carro, sentado no banco de trás, enquanto ouvia música nos headphones como antigamente.
Os dias 28, 29, 30... a passar cada vez mais depressa... apenas para colidir numa repetitiva explosão de fogo de artifício, champagne e passas comidas de uma vez só, porque ele nunca se lembrava de acompanhar as doze badaladas.
Mas este ano a espiral parecia mais apertada, a descida mais íngreme... e quando olhava para o banco da frente via que ninguém ia a conduzir o carro.
Desde a partida dela, tão súbita e inexplicável e injusta, que ele passava a mão pela alma e não encontrava um espaço que não fosse rugoso, que não cheirasse a ferrugem e não soubesse a metal.
A vertigem do fim de ano fora antes um friozinho na barriga; agora era um buraco no estômago. E algo difícil de definir remexia-se dentro dele, um monstro que ele preferia não nomear, que deixava sempre para trás na viagem mas, mais cedo ou mais tarde, voltava a ver pela janela, à beira da estrada.
Todos os anos ele acreditara que ia ser diferente. Mas este ano já não. Percebeu que estava a andar em círculos. Mas não queria sair, não queria mudar. E ninguém me pode obrigar.
Então rezou para morrer no espaço, ou coberto de neve. Para ser transportado para um lugar silencioso e frio. Porque assim não sentia a diferença de temperatura.
E no fundo resumia-se a isso: não sentir. Esquecer o carro, a vertigem, a espiral. E, principalmente, não sentir falta da maçã vermelha que um dia segurou na mão. E que deixei partir.
Os dias 28, 29, 30... a passar cada vez mais depressa... apenas para colidir numa repetitiva explosão de fogo de artifício, champagne e passas comidas de uma vez só, porque ele nunca se lembrava de acompanhar as doze badaladas.
Mas este ano a espiral parecia mais apertada, a descida mais íngreme... e quando olhava para o banco da frente via que ninguém ia a conduzir o carro.
Desde a partida dela, tão súbita e inexplicável e injusta, que ele passava a mão pela alma e não encontrava um espaço que não fosse rugoso, que não cheirasse a ferrugem e não soubesse a metal.
A vertigem do fim de ano fora antes um friozinho na barriga; agora era um buraco no estômago. E algo difícil de definir remexia-se dentro dele, um monstro que ele preferia não nomear, que deixava sempre para trás na viagem mas, mais cedo ou mais tarde, voltava a ver pela janela, à beira da estrada.
Todos os anos ele acreditara que ia ser diferente. Mas este ano já não. Percebeu que estava a andar em círculos. Mas não queria sair, não queria mudar. E ninguém me pode obrigar.
Então rezou para morrer no espaço, ou coberto de neve. Para ser transportado para um lugar silencioso e frio. Porque assim não sentia a diferença de temperatura.
E no fundo resumia-se a isso: não sentir. Esquecer o carro, a vertigem, a espiral. E, principalmente, não sentir falta da maçã vermelha que um dia segurou na mão. E que deixei partir.