Agora quando forem ao supermercado ou à praça e se prepararem para pagar as compras, não se esqueçam de olhar discretamente à vossa volta, por entre os repolhos e folhas de alface ou outras leguminosas que sirvam o propósito da camuflagem. Olhem bem, primeiro para um lado e depois para o outro. Se o caminho estiver livre, toca a pagar como habitualmente. Se houver alguém a uma distância comprometedora, peçam fatura.
Não confiem nas velhotas que empurram as suas malas retangulares com rodinhas. Não confiem no homem que lê o jornal enquanto bebe a bica. Não confiem na peixeira que lava o chão, nem confiem no homem do talho de palito na boca.
O governo disse e está dito: desde o início deste ano, quem não exigir fatura nos estabelecimentos comerciais, está sujeito a uma multa entre os 75 e os 2000 euros. Portanto já sabem: cuidadinho.
Com esta animalidade, o governo faz de todos nós delatores, instaura uma nova espécie de PIDE, um controlo certamente inspirado no Panóptico de Foucault: não é precisa a certeza de que estamos a ser vigiados, não é preciso o polícia, o olhar inquisidor do chefe de finanças, nem do padre. Basta a suspeita, o medo, a vaga sensação de que podemos estar a ser observados, e toda a sociedade se auto-regulará em harmonia. Que belo feito, este.
Da minha parte vos digo: pelo sim pelo não, ao mínimo trejeito de dúvida por parte do comerciante quando eu mencionar o fatídico documento comprovativo, salto-lhe logo ao pescoço, que apertarei violentamente (enquanto espumo da boca e os olhos me saem das órbitas) até me faltarem as forças. Isto para que não restem dúvidas - à velhota, ao homem do jornal, à peixeira nem ao homem do talho - de que eu, de facto, exigi fatura.
1 comentário:
All Rigth!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Factura andante
Enviar um comentário