A minha opinião sobre o que escreve Henrique Raposo no Expresso é, regra geral, muito negativa. Mas o que hoje escreveu revoltou-me especialmente, de tal forma que até me atreveria a dizer que me apetece partir-lhe a cara, mas isso seria imediatamente considerado um tique de esquerda ou coisa parecida, portanto fiquemo-nos pelo "revoltou-me especialmente".
Os portugueses estão finalmente a reagir a olhos vistos às medidas injustas que lhes têm sido impostas (com resultados zero). Reagem agora com formas de expressão mais direcionadas e "cirúrgicas" do que as manifestações gigantescas que o Governo insistiu em ignorar. O Movimento dos Indignados de Lisboa tem convocado ações específicas de protesto face a determinadas figuras do Estado, como seja a que assistimos durante a visita de Miguel Relvas ao ISCTE.
Ora coube ao senhor Henrique Raposo (e a outros tantos iluminados) classificar esta ação de protesto como uma violação da liberdade de expressão do senhor Relvas e, pior, como uma ação "fascista".
Num tom desprezível, jocoso e paternalista, Henrique Raposo fala dos «novos cantadeiros do "Grandola Vila Morena"» como «aprendizes de fascistas», criticando a «total intolerância em relação ao outro lado», quando nenhuma tolerância foi tida para com este lado; tomando por ódio, «um ódio que escorre pelos cartazes, pelos rostos, pelas vozes», aquilo que na verdade é desilusão, desesperança ou desespero e desemprego. Mistura conceitos históricos «é a marca do fascista, seja ele castanho ou vermelho» (agora é moda, esta do "fascismo vermelho") para confundir os leitores ou talvez ele próprio acredite no conceito, coitado; e exagera factos: «temos a consequência lógica das duas premissas anteriores: o culto da violência».
Henrique Raposo rotula de «extrema-esquerda» pessoas que (muitas delas sem sequer ter filiação política) se fizeram ouvir num protesto pacífico (ainda que inflamado) contra aquele que eu considero atualmente ser o maior símbolo de um Governo opressor, mentiroso e corrupto. Acusa-os de serem «fascistazinhos de vão de escada» e convida-os a continuar «a mostrar que não sabem viver em democracia, que não sabem aceitar opiniões contrárias» e «a ameaçar».
Olhe senhor Henrique Raposo, bem sei que nunca lerá este texto, mas permita-me cuspir no seu. Mete nojo o desprezo que demonstra pela situação Portuguesa, ao ponto de ter escrito, do alto do seu pedestal, contra pessoas que têm a coragem para dizer "Não" a um Governo que (embora eleito democraticamente) é uma farsa, uma mentira aos eleitores. A razão que leva o Expresso a mantê-lo no poleiro, com crónica miserável atrás de crónica miserável, muitas vezes fundamentada mal e porcamente, é para mim um mistério.
Só posso concluir o seguinte: o seu convite não cairá em saco roto. Mas permita-me uma reformulação: continuaremos, sim, a lutar pela Democracia. Continuaremos sim, a mostrar que não aceitamos (e muito menos prestamos vassalagem) a figuras viscosas como Miguel Relvas. Continuaremos a lutar para que também os seus filhos (e aí é que está a ironia da coisa) possam viver num País com futuro, sem serem convidados a emigrar.
Quanto aos estudantes do ISCTE e todos os que se têm mobilizado, em manifestações maiores ou menores, só tenho a dizer uma coisa: obrigado.
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