quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

the first flower after the flood


(photo by me)



Tenho escrito vários posts mas depois não chego a publicá-los.
Sobre príncipes e precipícios. Quem sabe um dia.



Quando era miúda vi uns desenhos animados de que nunca mais me esqueci. Contavam a história de uma rapariga nova a quem tinham oferecido um gato bebé. Ela tocava piano (num daqueles pianos de parede, em madeira escura) e ele tinha o hábito de se ir deitar lá em cima, enquanto ela praticava. Ao fim de algum tempo, sempre que ela falhava uma nota, o gatito levantava a cabeça com ar espantado, como se já conhecesse as melodias de cor. Ela parava e recomeçava.

Os anos foram passando, a rapariga tornou-se senhora e o gatinho tornou-se gato. Ela tocava e ele ouvia. E quando o gato estava bem velhote e a senhora percebeu que o fim estava próximo, tocou para ele uma última vez. Sem falhas.

Não sei porquê mas sempre imaginei que aquela senhora era eu e que havia de tocar piano e de ter um gato que me ouvisse. Hoje lembrei-me desta história e de como todos nós procuramos dedicação... na vida, nos outros. A dedicação de uma criança ao piano, a dedicação de um animal ao seu dono. Mas às vezes não funciona assim.


Só quero que a Primavera chegue, dia 21 de Março.

E vou ter um gato.

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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

primeiro estranha-se...


(photo by me)

... depois entranha-se.

Muito se apoquentam os meus pais com o meu interesse repentino pela compra de pares de ténis a seguir a pares de ténis. Até já tenho vergonha de que eles vejam que comprei uns. Sempre que chega uma caixa de cartão com etiquetas do estrangeiro, começo literalmente aos pulinhos no mesmo sítio, como uma criança no dia de Natal. É um facto. E pode ser preocupante para os pais de uma mulher de 26 anos... mas ao menos tenho consciência disso.

Ora, ontem à noite, depois de muito pular no meu quarto quando vi que tinha chegado uma caixa com estes meninos, pus-me a pensar. É certo que foram "os ambientes" que me levaram a "cair" nisto. E que seria muito triste se eu fechasse os olhos a uma série de outras realidades, deixasse de ir ao cinema ou a concertos, para ter dinheiro para a "dose".

Mas há vícios e vícios (e, atenção, eu ainda acho que consigo parar), portanto cabe-me a mim provar que, ainda que os meus pais não compreendam este, estão viciados em algo bastante pior em todos os aspectos: o tabaco.

Porquê? Aqui ficam 5 argumentos.

Ponto 1: Comprar um par de ténis por mês (entre os 70 e os 120 euros, que eu também não abuso muito) pode constituir, em média, um gasto de €95/mês. Comprar um maço de tabaco por dia (a cerca de 3,50 euros cada), constitui em média um gasto de €105/mês. Ténis: 1. Tabaco: 0.

Ponto 2: Os ténis são confortáveis, incentivam a pequenas corridas para apanhar os transportes públicos e contribuem para a saúde dos pés e coluna das pessoas. O tabaco provoca cancro.

Ponto 3: Uns ténis de que gostamos fazem-nos sentir bonitos e são confortáveis, por isso tornam-nos mais sociáveis, permitem-nos dançar mais tempo e melhor (lol), no fundo, facilitam a interacção e podem levar-nos a fazer amigos ou, quem sabe, conhecer a nossa cara-metade. O tabaco? Causa impotência.

Ponto 4: Os ténis são proibidos em certos locais de trabalho. O tabaco reduz a produtividade do trabalhador devido aos famosos "intervalos para o cigarro".

Ponto 5: Ténis? Just do it. Tabaco? Estás a respirar por uma palhinha aos 50 anos.

E mais não digo. Há uns tempos escrevi sobre pessoas que viviam em torno de ténis, cor-de-rosa e doces. E ainda não consigo compreender quem tatua bolos (perdão: cupcakes), gelados e rebuçados na pele, é algo que me ultrapassa, mas pronto. Quanto aos ténis, primeiro estranhei, agora é o que se vê.

Todos os vícios têm os seus perigos, todas as modas têm a sua duração (nota para os pais: isto passa...). a Carrie vibrava com cada par novo de saltos altos, eu ao menos não dou cabo da coluna.

E viv'ós kicks!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Declarações de amor todos os dias

Eu disse-lhe que este texto devia ser lido por toda a gente. Devia ser incluído no programa de ensino de Português (A e B, para não deixar de fora os alunos de ciências, que bem precisam) do 10º ano. Devia ser a mensagem de ano novo do Presidente da República! Devia ser transformado em conto de fadas, daqueles com uma moral no fim, e contado pelas mães e pais aos filhos antes de eles adormecerem. E transformado em romance, para os filhos oferecerem aos pais, quando fizessem anos de casados. Este texto é obrigatório para todos os que pretendem, um dia, ser felizes no amor.

Por isso acho bem que o leiam. Aqui e agora.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

sobre aqueles que desaparecem



O ano passado foi fértil em amizades que deram para o torto. Uma devido a incompatibilidades tardiamente reveladas, outra devido à intolerância, outra devido não sei bem a quê.

Das três que partiram, terei saudades apenas desta última. As outras duas só me deixaram memórias desconfortáveis e alguns arrependimentos. Esta última não.

Lembro-me de que tudo começou com a prenda de anos do ancião. Depois lembro-me de uma loja na Baixa com "tchá" e perucas e chapéus, da busca incessante por um G. I. Joe, de uma tempestade lá longe que resultou num guarda-chuva em pedaços, de um banho inesperado no Tejo que implicou uma ida estratégica aos chineses para comprar calças (e até cuecas) novas, de uma língua que acabava sempre em "e", dos bilhetinhos e mensagens secretas, dos pacotes Nicola, das private jokes, dos ovos Kinder, dos filmes "crackades", de um desmaio no cinema, de um vídeo com uma música sobre (again) guarda-chuvas, das corridas no Mario Kart, dos regressos no comboio naquele sítio ao pé da porta, do Pyramid, do "we've only just begun", da banda sonora mensal (PAM PAM PAM PAMMMMM) que já ninguém podia aturar, de um mergulho urgente para debaixo da mesa no mexicano... e de outras tantas coisas de que eu gostava de me lembrar mas já nem sei. Acima de tudo, lembro-me do sorriso que tinha (mesmo que não na cara) todas as manhãs em que ia trabalhar.

Claro que também me lembro da "Verdade sobre Cães e Gatas", da desilusão que foi pensar que afinal não éramos amigos, só o éramos porque havia uma hidden agenda da outra parte e dos tempos esquisitos que essa revelação suscitou. Mas hoje não me apetece lembrar-me dessa parte.

Eu sei que há coisas que se perdem e há coisas que duram. Mas esta amizade cessou sem um adeus, obrigado, até à próxima. E sem um nunca mais te quero ver. Sem nada. E não devia ser assim. Os amigos têm direito, pelo menos, a uma despedida.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

livro de colorir

Apetecia-me escrever uma história sobre uma rapariga que todos os dias ia para o emprego com o coração cinzento, num comboio cinzento, sentada num banco cinzento, debaixo de um céu cinzento. Talvez um dia eu escreva sobre o que ela fez, uma manhã quando chegou ao emprego e se olhou ao espelho e viu que a sua pele também se estava a tornar cinzenta. Pois o cabelo já tinha começado, meses antes, a ficar cinzento. Ela sabia que um dia ia acabar por se fundir com as paredes forradas de fotocópias a preto e branco, amigas do ambiente. E passaria em frente a essas paredes como que camuflada, sem ninguém dar por ela. Por isso é que ela fez aquilo. Teve de fazer.


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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Às vezes...


(photo by me)

...esqueço-me de que o príncipe encantado não existe. E sempre que isso acontece, é muito mau.